Rodrigo Pacheco é o novo presidente do Senado. Apoiado por Bolsonaro, Pacheco nega ‘pressão externa’; Simone diz que não tem ‘cargos a oferecer’

André de Souza e Julia Lindner
Alcolumbre abre sessão para eleger o novo presidente da Casa Foto: Pablo Jacob / Pablo JacobAlcolumbre abre sessão para eleger o novo presidente da Casa Foto: Pablo Jacob / Pablo Jacob

O processo de votação começou pouco depois das 17h. Antes das 19h, os senadores já haviam votado, e a apuração começou.

Momentos antes da votação, Pacheco também assumiu um compromisso pela “defesa intransigente do Estado Democrático de Direito”. Ao mesmo tempo, disse que a sua gestão, formada com alianças de diferentes correntes ideológicas, pode ser uma oportunidade de “pacificação” das relações políticas.

— Vamos fazer disso uma grande oportunidade, uma grande oportunidade singular de pacificação das nossas relações políticas e institucionais porque é isso que a sociedade brasileira espera de nós — disse Pacheco.

Assista à sessão da eleição para presidente do Senado:

Defensor de uma nova rodada do auxílio emergencial durante a pandemia do novo coronavírus, Pacheco disse, em sua fala, que é preciso tentar conciliar o teto de gastos públicos com a área da assistência social, mantendo o diálogo com a equipe econômica para buscar soluções.

— Não podemos desconhecer que a despeito do compromisso da responsabilidade fiscal e do teto de gastos públicos de índole constitucional, nós temos uma obrigação de reconhecer um estado de necessidade no Brasil que faz com que milhares de vulneráveis, milhares de miseráveis precisam do atendimento do Estado. De modo que nos primeiros instantes, caso vossas excelências me outorguem o mandato de presidente, nós vamos inaugurar um diálogo pleno, efetivo e de resultados, porque isso é para ontem, para que se possa conciliar o teto de gastos públicos com assistência social num diálogo junto com a equipe econômica do governo federal — declarou.

Simone, por sua vez, ressaltou que não tem cargos ou emendas ao orçamento para oferecer em troca de apoio.

— Não tenho cargos externos a oferecer. Não tenho emendas extraordinárias para oferecer. Não tenho apoios políticos oficiais de quem quer que seja a não ser os apoios mais espontâneos vindos da sociedade.

Após o discurso de Simone Tebet, o candidato Lasier Martins (Podemos-RS) anunciou que também vai abrir mão da disputa para apoiar a emedebista. Assim, restaram apenas Simone e Pacheco no pleito.

Senadores desistem

Três senadores anunciaram que desistiram da candidatura à presidência da Casa para apoiar Simone Tebet (MDB-MS), que concorre sem o apoio formal do próprio partido. Jorge Kajuru (Cidadania-GO), Major Olímpio (PSL-SP) e Lasier Martins abriram mão de disputar o cargo. Lasier Martins (Podemos-RS) é o outro nome na disputa.

Ao abrir mão da candidatura, Kajuru criticou o MDB, que segundo ele, passou Simone Tebet para trás em troca de “cargões”.

— A mulher é sofrida, é mais fácil passar uma mulher para trás, é mais fácil de enganar uma mulher. Foi o que o MDB, dito pelo próprio (senador) Renan Calheiros (MDB-AL), que chega agora a um fim melancólico, falou que é um partido de pedintes de carguinhos. Isso não é verdade, Renan. É de cargões. Tanto que eles fizeram tudo isso com a Simone Tebet em troca de uma vice-presidência do Senado que tem um orçamento extraordinário. E é por isso que eles passaram a perna, rifaram a Simone Tebet. Em homenagem a Simone Tebet, em respeito a uma mulher honrada, de história, eu abro mão da minha candidatura — disse Kajuru.

— Eu quero renunciar minha pretensão, que seria uma pretensão do PSL, para que possamos ter pela primeira vez na história do Senado uma mulher corajosa, firme para conduzir esse processo

A sessão foi aberta por volta das 15 horas pelo atual presidente da Casa, Davi Alcolumbre (DEM-AP), que aproveitou para fazer um balanço de sua gestão. Para que a deliberação comece, é necessário ter a presença de pelo menos 41 parlamentares. A previsão é que o resultado da votação saia no final da tarde.

Alcolumbre cita vacinação

De saída do cargo, o presidente do Senado, Davi Alcolumbre (DEM-AP), disse antes de a sessão começar que a vacinação contra a Covid-19 poderia ter sido mais rápida. Ele também defendeu atenção aos mais vulneráveis.

— Nós teremos um país após a pandemia e a crise econômica, um país onde o nosso povo fica cada vez mais vulnerável. A gente precisa dar uma resposta para aqueles que mais precisam, aqueles que esperam da gente as respostas. Teremos graves problemas sociais. Já tínhamos antes da pandemia. Foram ampliados agora com essa crise — disse Alcolumbre, afirmando em seguida:— Esse olhar eu tenho certeza de que será o olhar desse próximo período, a partir do momento em que tivermos a vacinação, que também tem que ser uma questão urgente de todos nós brasileiros. As coisas estão acontecendo, irão acontecer. Poderiam ter sido mais rápidas. Mas estamos tendo a vacina no Brasil. Está chegando de várias origens. E a gente tem que ter vacina, seja de onde for, com autorização da Anvisa (Agência Nacional de Vigilância Sanitára), dos órgãos de controle, porque a gente só vai conseguir sair dessa dificuldade quando tiver o povo brasileiro vacinado.

Uma cena curiosa também marcou o início da sessão: dois anos depois de “roubar” uma pasta das mãos de Alcolumbre na sessão em que ele foi eleito para o comando da Senado, Kátia Abreu (PP-TO) relembrou o episódio ao devolver o objeto de forma simbólica nesta segunda-feira, em plenário.

O presidente da Casa interrompeu as falas dos candidatos à presidência para ouvir a parlamentar, que rasgou elogios a Alcolumbre ao dizer que ele a surpreendeu positivamente. Em 2019, Kátia fez campanha para Renan Calheiros (MDB-AL). Por fim, a senadora entregou uma nova pasta embrulhada em um laço nas cores verde e amarelo.

O candidato apoiado por Alcolumbre, Rodrigo Pacheco (DEM-MG), recebeu apoio público de Kátia há algumas semanas. Ontem, a senadora também esteve em um almoço promovido pelo senador Weverton Rocha (PDT-MA) com os aliados de Pacheco. Na ocasião, ela protagonizou um dueto musical com o também senador Fernando Collor (Pros-AL).

Pacheco: apoio de 11 partidos

Rodrigo Pacheco, afilhado político de Alcolumbre (DEM-AP), chega ao dia da votação como o favorito, após reunir o apoio do presidente Jair Bolsonaro, além de outros 11 partidos: DEM, MDB, PT, PDT, Rede, PP, PSD, PSC, Pros, PL e Republicanos. Sem apoio do Palácio do Planalto, nem do próprio partido, o MDB, Tebet deve receber votos do Podemos, Cidadania e PSB.

Como primeiro compromisso, Pacheco citou que a defesa da República envolve o combate constante da corrupção, e ressaltou que isso não pode ocorrer de forma “casuísta”:

– O meu primeiro compromisso é de defesa da República do Brasil, com a soberania nacional, a cidadania, a

dignidade da pessoa humana, os valores sociais do trabalho da livre iniciativa e do pluralismo político. A República merece ser tratada com moralidade e ética, com o combate sempre constante e não casuísta da corrupção.

Em entrevista ao GLOBO, em janeiro, o senador mineiro criticou a “aura de heroísmo” em torno da Operação Lava Jato. Ele também ressaltou que, como advogado, apontou “equívocos e excessos” quando atuou na defesa de réu no mensalão.

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