No Divã Em Paris – O terrorismo que se diz “democrático” é paradoxal

Mário Pinheiro, de Paris *

Não é de hoje que se escuta histórias sobre ações arquitetadas de grupos terroristas, mas o que sempre fica sem esclarecimento são as represálias, as cobranças. Ninguém envia bombas contra uma etnia ou uma comunidade apenas para marcar presença ou mesmo por esporte.

Há sempre uma cobrança econômica, social, territorial ou mesmo pela indiferença mesquinha, ignorada por quem se passa por vítima. No estado de Israel, por exemplo, há judeus ortodoxos que se manifestam contra o fato de invasões desproporcionais para instalar colonos nos kibuts. Eles entendem que colonização é uma ideia ultrapassada, da Idade Média, mas que, portanto ainda está presente nos dias de hoje.

Quando a Rússia invadiu a Ucrânia numa dita “operação militar”, a OTAN, Estados Unidos e Europa correram em auxílio ao líder Vlodimir Zelensky para fortalecê-lo militarmente para enfrentar o leão russo, o “maldoso” Vladimir Putin, conforme a imprensa internacional costuma repetir.

Zelensky recebeu canhões modernos, armas de última geração, drones e até aviões. Estava escrito que a invasão era colonização e colonização é algo inaceitável. Mas a briga de Putin virou contra todo o Ocidente, sobretudo a OTAN. Zelensky, por sua vez, usando da astúcia política e guerreira, sempre afirmou que fazia esta guerra pela Europa, pelos outros, contra a potente Rússia.

Ora, a Rússia requeria o reconhecimento ucraniano pelo tratado assinado na própria Criméia em 1954, que determinava que Criméia e Sebastopol passavam para a Rússia. Este tratado foi referendado em 2014 e aprovado por 96,77% da população. Acontece que Zelensky ignorou o tratado e o referendo.

Em 1995, na Palestina, Yasser Arafat era o líder político junto com o grupo Fatah criado oficialmente em 1964. Era puramente político, econômico e social. O primeiro ministro de Israel era Isac Rabin. No encontro de Arafat e Rabin na Casa Branca, Bill Clinton conseguiu selar o acordo de paz de Oslo, de 1994, e eles apertaram as mãos.

No mês de novembro de 1995, Rabin era assassinado por um radical da extrema direita de Israel, um terrorista. Em seguida Israel financiou o nascimento do grupo Hamas pra ser oposição ao Fatah e a Arafat. O acordo de Oslo investia a Palestina de poderes limitados e dava sinal verde para eleições do Conselho legislativo palestiniano. A questão das investidas de grupos palestinos contra Israel sempre foi por causa do roubo de terras, do abuso israelense.

Dois pesos e duas medidas

Quando a Rússia invade a Ucrânia, o Ocidente se arma, se organiza e diz, em nome da “democracia” proteger os interesses ucranianos. Zelensky aproveita para visitar os países desenvolvidos e pede armas e mais armas.

Mas quando se trata de invasão de Israel sobre a Cisjordânia, na Palestina, ninguém age, a potência americana se faz de surda e Israel desobedece a qualquer voz da ONU e da comunidade internacional. Israel tira proveito, mata, invade, coloniza, depois tenta se passar por democrático.

E mais, é proibido chamar as ações de Israel de terroristas. Sim, Israel utiliza das mesmas subtilidades de grupos terroristas. A primeira crítica vai para a imprensa que faz seus debates com pessoas que defendem apenas um lado, não reconhecem a covardia do massacre que o povo palestino sempre sofreu.

O estado de Israel é governado por uma extrema direita e segue benzida e apoiada pela política de direita tanto da França quanto dos Estados Unidos e Inglaterra.

(*) Mário Pinheiro é jornalista

pela UFMS, mestre em Sociologia da

Comunicação, filósofo e doutor em Ciências

Políticas ambos por Dauphine, Paris.

Ele escreve aos sábados, no site O Jacaré.

 

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