Gaarder estudou Filosofia e Teologia e se tornou professor de uma escola secundária. Em paralelo, escrevia livros de ficção desde 1986, mas apenas em 1991 lançou a obra que o levaria ao rol dos autores mais comentados da década.
— Foi meu quarto livro, mas somente com ele parei de lecionar — diz o norueguês, pai de dois filhos e avô de cinco netos.
O GLOBO: Quando o senhor escreveu “O mundo de Sofia”, qual era o maior objetivo? Tinha em mente atingir tantos adultos?
JOSTEIN GAARDER: Queria alcançar jovens e também adultos, os dois públicos, escrevendo sobre filosofia ocidental de um jeito fácil. E todas as pessoas fazem perguntas filosóficas. Penso que hoje, durante a pandemia, muita gente está se perguntando sobre o que é mais importante na vida.
Como a filosofia pode nos ajudar a enfrentar esses tempos?
Ela pode nos ser útil em combater a desinformação?
A filosofia sempre lutou contra as fake news, porque sempre está procurando a verdade real. O que há de mais profundo em nossos estudos é a busca pela verdade. Lá no início, com os primeiros filósofos gregos, o que havia era a constante procura pela verdade lógica, quebrar conceitos mitológicos. No mundo contemporâneo, isso equivale ao que Donald Trump gosta de dizer: verdades alternativas. O que é um conceito ridículo. Todos nós tentamos interpretá-la, chegamos a resultados diferentes, mas nossa busca é pela verdade única, não há alternativa.
Capa da primeira edição em português de ‘O mundo de Sofia’ Foto: Divulgação
O senhor faria alguma mudança no livro hoje ?
Com certeza, duas. Primeiramente, não imaginava que ele seria lido na China, no Japão, na Índia. Teria escrito sobre filosofia oriental ou enfatizaria no título que era um livro sobre o pensamento ocidental. Outra coisa: falaria mais sobre ecologia e meio ambiente. Algumas questões filosóficas são as mesmas, como “o que é o Universo”, “se Deus existe”. Mas há novos questionamentos. O mais importante hoje em dia é: como podemos assegurar a vida na Terra no futuro?
Minha Sofia estaria mais preparada para viver neste mundo, mas não muito engajada na questão ambiental, em como preservar a vida na Terra. Eu era um pouco ignorante nisso quando escrevi o livro, apesar de mencionar rapidamente o assunto. Deveria ter abordado mais a nossa responsabilidade com o planeta.
O senhor é muito ligado a esse assunto e disse, numa entrevista ao GLOBO, em 1998, estar bastante preocupado com o futuro da Amazônia. Tem acompanhado a política do governo brasileiro para a região?
Não sei muito sobre especificidades, mas acho que Bolsonaro não tem feito o melhor que pode, na visão do meu país. Ele nega os relatórios de preservação. Há uma preocupação muito grande aqui. Mas a responsabilidade ambiental na Noruega também é enorme, com a exploração que fazemos do petróleo.
Poderia nos adiantar seus próximos projetos literários?
Estou escrevendo, pela primeira vez, um livro de não ficção, sobre o mundo em que estamos vivendo.