Gabriel Shinohara
O GLOBO
BRASÍLIA — A uma semana para a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), o presidente do Banco Central (BC), Roberto Campos Neto, disse que preços como o da gasolina, que têm pressionado a inflação, sofrem impacto da alta do dólar e lembrou que a Petrobras repassa esses custos com mais frequência que o que ocorre em muitos países.

No mesmo dia, o presidente da estatal, Joaquim Silva e Luna, que participou de audiência na Câmara dos Deputados, culpou os tributos estaduais pelos preços elevados dos combustíveis. Em alguns estados, a gasolina já passou de R$ 7 o litro.

Campos Neto explicou que a inflação sofreu sucessivos choques nos últimos meses, como o preço dos commodities e, mais recentemente, da crise hídrica, que afetou os preços de energia.

Segundo ele, a parte de energia inclui os preços de petróleo e etanol, que também tiveram impacto da desvalorização cambial, o que fez com que o preço de commodities em reais tivesse efeito maior no país.

— A parte de passar esse preço de commodities para o preço interno no Brasil, o mecanismo é um pouco mais rápido, lembrando que a Petrobras, por exemplo, passa preços muito mais rápido do que a grande parte dos outros países. A gente tem olhado isso também.

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‘Alta frequência’

Ele participou de evento do BTG nesta terça-feira. E explicou que, diante da alta nos preços, a taxa básica de juros, a Selic, será elevada até o patamar necessário para atingir a meta de inflação.

Atualmente, a taxa está em 5,25% ao ano, e a sinalização do BC é que deve subir mais um ponto percentual na próxima reunião. Mas Campos Neto deixou claro que não vai mudar a política monetária por questões pontuais.

— Algumas coisas a gente tem comunciado, já tinha antecipado, algumas coisa de disseminação estão um pouco piores na ponta, mas a gente tem um plano de voo que a gente olha no horizonte mais longo. Isso não significa que você não vai atingir o objetivo de estabilizar, de fazer a convergência da inflação na frente, mas significa que não obrigatoriamente tem a necessidade de reagir a dados de alta frequência  — disse Campos Neto.

Mercado vê inflação a 8% em 2021

Na semana passada, o IBGE divulgou que a inflação subiu 0,87% em agosto, o que resulta em um índice de 9,68% em 12 meses.

Assim como a inflação, as expectativas do mercado para o índice também vem subindo nas últimas semanas. Segundo o relatório Focus, que reúne as projeções de mercado, o IPCA deve ficar em 8% este ano e 4,03% no próximo. Se concretizado, ambos estariam acima das metas de inflação, de 3,75% e 3,5%, respectivamente.

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Campos Neto também voltou a dizer que o pano de fundo fiscal é melhor do que o esperado no início da pandemia, mas ressaltou que há ruídos porque o mercado percebe um risco fiscal atrelado ao processo eleitoral.

— Tem um ruído atrelado ao fato de que vários programas que o governo tem feito, existe uma percepção por parte do mercado que esses programas estão associados a uma intenção de fazer um Bolsa Família que está ligado ao processo eleitoral. A gente entende que quando for virada a página esse tema, que deve acontecer em breve, as pessoas vão focar um pouco mais no pano de fundo — disse.

Nas últimas semanas, o governo tem discutido uma solução para abrir espaço no Orçamento para a criação do Auxílio Brasil, que deve substituir o Bolsa Família. Entre os pontos debatidos, está a questão do pagamento dos precatórios, que causou incerteza no mercado e ainda está sem solução.