Aos 65 anos, Taumaturgo Ferreira fala de ‘O Cravo e a Rosa’, de período difícil depois de ‘Renascer’ e de relacionamento com Malu Mader

Patrícia Kogut

O GLOBO

“O Cravo e a Rosa”, novela que acaba de voltar ao ar na Globo, foi um dos marcos da carreira de Taumaturgo Ferreira. Na trama de 2000, o ator viveu o caipira Januário:

– Não assisto a todas, mas essa eu pretendo. Tem coisa que você vê e se sente datado. Alguns trabalhos têm alguma restrição, críticas… Mas “O Cravo e a Rosa” é magnífica, deslumbrante, coroada de êxitos e amor. Quando o Walter Avancini (diretor) convidava para um papel, você sabia que era padrão Avancini de qualidade. Acho que todo mundo que participou considera isso. É um clássico, uma novela que nunca vai ficar datada. É como uma obra de arte mesmo. O elenco foi muito bem escalado. Foi uma conjunção feliz de fatores.

Antes do sucesso na história de Walcyr Carrasco, o ator vinha passando por um período turbulento profissionalmente. Em 1993, ele saiu de “Renascer” no meio da trama. Depois desse episódio, Taumaturgo fez algumas minisséries e breves participações em produções da emissora:

– Eu fui cancelado. Durou seis anos. Queriam que eu fizesse uma coisa mais rural, da Bahia. Eu tinha combinado com o diretor que meu personagem (José Venâncio) não teria sotaque nem falaria “oxente” e “painho”. Porque ele era um cara que tinha estudado fora, mais sofisticado, namorava uma hermafrodita… Eu não via sentido. Combinei com o diretor para não fazer. Só que se esqueceram de combinar com os russos (risos). Aí me picharam, disseram que eu fazia um papel muito afetado e sofisticado para aquela família. Fui sentindo uma resistência. Me expulsaram no capítulo 50 ou 60, não lembro. E nessa hora aparece todo mundo que não vai com a sua cara para chutar cachorro morto. Então, o Januário foi minha volta por cima na Globo. Foi uma grande oportunidade de mostrar que eu também poderia fazer um papel não só do irreverente, blasé e debochado.

Ele diz que o ocorrido o marcou profundamente:

– Se te expulsam de uma novela, quando você faz outras, fica aquela sensação de que a qualquer momento podem te tirar. Demorou para passar isso. Nem sei se passou, sabia? Quando está todo mundo adorando, aí você se esquece disso. No momento em que me tiraram, eu nem me dei conta. Não dei muita atenção para isso. Só fui vendo como se refletiu na minha carreira anos depois. Nunca fui arrogante. Quem me conhece sabe que sou um doce de coco. Compenetrado e aplicado. Amo o que faço. Não fico me promovendo, dizendo que sou o ator do método, que estudo. Mostro isso no dia a dia. Embora tenha feito vários trabalhos em que me portei dessa maneira, fiquei com pinta de cafajeste, rebelde, sei lá o quê. Eu até poderia voltar atrás, mas não ia fazer sotaque num personagem que já estava no ar. Depois disso, minha carreira despencou, não tinha mais contrato longo. Aí fui para a Record (em 2006), fiquei lá nove anos.

A trajetória de Taumaturgo tem outra passagem ainda hoje muito comentada: seu relacionamento com Malu Mader, que começou em “Anos dourados” (1986).

– Nós sempre fomos discretos. Morávamos juntos, durou uns dois anos e meio. Quando começou “Top model”, as pessoas demoraram a perceber que estávamos separados. A imprensa era mais devagar, não era tão abrangente e instantânea como hoje. Lembro que, antes de ficar com a Malu, a novidade era o grande ator que estreou. Tudo a favor. Depois que fiquei com ela, começaram a falar que era muita areia para o meu caminhão. Começaram a me sacanear assim, era uma coisa de ciúme, porque eu estava com a deusa, a musa da TV brasileira. Era como um patrimônio, uma propriedade das pessoas: “Só eu posso gostar da Malu”. Senti que teve uma revoltinha.

Segundo ele, os dois não pensaram em ter filhos:

– Desde garoto eu falava: “Nunca vou casar, nunca vou ter filho”. Eu tinha 30 e ela, 20. Não havia essa preocupação, esse objetivo. Não se conversava sobre isso.

Taumaturgo, hoje com 65 anos, acabou seguindo com esse pensamento:

– Não me arrependo. Foi por causa da minha profissão, que é muito incerta. Sempre pensei: “Imagina se tiver que fazer um papel ou um trabalho humilhante, uma coisa que vai machucar, porque tenho que pagar a escola do meu filho e dar comida?”. Isso não combinava comigo, eu queria ser completamente livre.

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