O Botafogo, os deuses do futebol e a piscadela!!!

Pode ser uma imagem de 1 pessoa, jogando futebol, jogando futebol americano e textoPor Odil Puques *
Quando Zeus começou a organizar e designar as tarefas para cada um dos deuses do panteão, escolheu Nice para gerir o esporte e desde então a Deusa da Vitória tem se desdobrado em miles para garantir fama e fortuna àqueles que a invocam. Um ideiudo colocou seu nome – em grego – e suas asas no tênis e buuum, ficou trilardário e reconhecido.
Ocorre que nem Nice, nem deus algum estavam preparados para o surgimento de um esporte bretão, que segundo contam, iniciou-se quando os ingleses adquiriram o hábito de chutar uma bola de couro, símbolo da cabeça de um membro do exército da Dinamarca, como forma de comemorar a expulsão dos dinamarqueses. E a coisa ficaria ainda pior, quando um certo Charles Miller o introduziu em terras tupiniquins. A humanidade precisa de previsibilidades e o futebol ah cara e caro, nunca será dois mais dois, a ponto de Nelson Rodrigues vaticinar “A mais sórdida pelada é de uma complexidade shakespeariana” e Guilherme Trucco na saborosa crônica “Os deuses do futebol” lá pelas tantas dizer “Damos espaço para o improvável, o desperdício, o ineficiente. Daí que no futebol, o último colocado pode ganhar do primeiro da tabela. Daí que se abrem as portas para o improviso, o mágico, o espiritual.”
Na iminência de ser derrotada – com o perdão do trocadilho infame – a Deusa da Vitória – selecionou alguns dos seus e outros que haviam passado pelo plano terrenal e pudessem minimamente tentar gerir o que ocorre dentro e fora das quatro linhas, criando o departamento que nominou: Os deuses do futebol.
Muitos lá estão, mas atualmente o Conselho é formado por Nelson Rodrigues, Di Stéfano, Puskas, Armando Nogueira, Santa Rita de Cássia, Eros, Afrodite, Eusébio, Gordon Banks, Bobby Moore, João Paulo II, São Januário, Dieguito e por último, o Edson Arantes. A presidência, rotativa, está nas mãos do atlético deus Apolo.
Não se sabe exatamente se Judas Tadeu em algum momento possa ter influenciado a votação do Conselho, mas é fato que ficou determinado que o Botafogo, chamado Glorioso, teria muitas glórias e esquadrões inesquecíveis, lhe seria permitido ter em seu escrete um anjo, de pernas tortas, mas anjo, mas lhe poriam uma sina, acontecer-se-ia coisas tão contigo somente. A inspiração, através de um sopro dizem, fora cunhada por outro ilustre botafoguense, o escritor Paulo Mendes Campos: “Há coisas que só acontecem com o Botafogo.” Nelson, esse mesmo deus das crônicas quando ainda estava por aqui, nos adiantava: “E, além disso, o alvinegro autêntico paga para sofrer. O alvinegro autêntico, repito, prefere a catástrofe. E, quando o time perde, ele se realiza. Pode clamar, espernear, arrancar os cabelos, amaldiçoar e soltar os cães de sua ira. É a vocação da calamidade que torna inconfundível o botafoguense irreversível.”
E neste ano da graça do vinte e três, o título do brasileirão lhe escorre pelos vãos dos dedos, com requintes de crueldade. Stephan Nercessian bomba nas redes sociais ao prever o caos. Mas explico o acontecido. Vide que as coisas já viam degringolando, mas eis que no dia de todos os santos, trigésima primeira rodada o Bóta entrou para jogar contra o Palmeiras, seis pontos à frente. Primeiro tempo, 3×0 fora o baile. Pronto, campeonato decidido. Só que não. Convocação de emergência no olimpo. Apolo achou que a piscadela do Marlon Freitas fora direcionada à sua Dafne e usou as prerrogativas de presidente, convenceu os demais e doravante as partidas disputadas pelo time de General Severiano seriam de uma tragédia grega. Neste mesmo jogo os deuses permitiram a virada dos palestrinos por 4×3. Ao próximo: nova virada desta feita dos tricolores gaúchos, também por 4×3 e a sofrência de três empates nos estertores após ficar na frente dos placares. Contra o Braga aos 96’, Santos aos 90 e Coxa aos 99. Esse ainda pior, pois Tiquinho havia feito aos 97. A entender que todos temos destinos, sinas, cruzes, carmas, vidas passadas, maldiçoes a carregar. E o Bóta, a sua. Mas por conta de uma piscadela? Por isso, dizem ser o ciúme o pior dos sentimentos…
* Odil Puques, é advogado, palmeirense e rodrigueiano;
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