Morre Tony Goes, colunista que marcou a cobertura de televisão e cinema na Folha

Roteirista, que também escreveu séries e programas de variedade, tratava um câncer no intestino desde 2021
Tony Goes em encontro de colunistas da Folha de S.Paulo em fevereiro de 2019
Tony Goes em encontro de colunistas da Folha de S.Paulo em fevereiro de 2019 – Bruno Santos/Folhapress
PEDRO MARTINS
FOLHA DE S.PAULO
SÃO PAULO – Morreu na madrugada desta quinta-feira o jornalista e roteirista Tony Goes, de 63 anos, que marcou a cobertura de televisão e cinema da Folha com sua coluna diária de recomendações na IlustradaÉ Hoje em Casa, e com textos semanais no F5, em que comentava o mundo do entretenimento.

A morte foi confirmada por seu irmão, o produtor audiovisual Zico Goes. Desde 2021, Goes tratava um câncer no intestino e, na última semana, descobriu que o tumor tinha se espalhado para o fígado, o peritônio e outros órgãos. Ele sofreu uma falência hepática em decorrência das complicações da doença.

Nascido no Rio de Janeiro, em 1960, mas vivendo em São Paulo desde criança, Goes se formou publicitário. Ele contava, no entanto, que sempre quis ir além dos anúncios. Por isso, se especializou na indústria da televisão, para onde escreveu séries de humor e programas de variedade.

Goes escrevia roteiros havia pelo menos 25 anos. Em seu currículo, há produções como a série “Santo de Casa”, uma sitcom exibida pela TV Bandeirantes, e programas como o extinto “Vídeo Show”, da TV Globo. Sua última produção, lançada em 2020 pela HBO, foi a série “12 Moedas”, que investigava a mudança de moedas no Brasil desde 1822.

Tony, que trabalhou do hospital até seus últimos dias, comentando o Carnaval, tinha acabado de estrear no teatro. Ele escreveu a peça “Quem Tem Medo de Olga Del Volga?”, que esteve em cartaz até o início do mês na boate gay Turma O.k., na Lapa, região central do Rio de Janeiro.

A peça narra a história de Patricio Bisso, intérprete da sexóloga russa Olga Del Volga e também um dos cronistas mais ferinos da história a cobrir o mundo do entretenimento, com seu humor considerado politicamente incorreto.

“A Folha perde um de seus colaboradores mais bem-humorados, um especialista em cultura pop e televisão e um ser humano incrível”, diz o diretor de Redação da Folha, Sérgio Dávila.

Humor era de fato uma das características mais marcantes de Goes. “Tony estava consciente. Você conhece o humor dele. Ele conseguia tirar sarro de tudo, inclusive de sua própria situação”, diz o irmão.

Prova disso era seu blog pessoal, atualizado diariamente. No domingo, ele contou a seus leitores que havia sido internado, após realizar um procedimento para remover líquido acumulado em seu abdômen, o que ele comparou a uma gravidez indesejada.

“Eu tenho barriga desde os 10 anos de idade. Antes que alguém me repreenda por não fazer academia —e eu fiz, muita—, gostaria de lembrar que a pança não me impediu de encontrar um grande amor e que vivo um casamento feliz há mais de 33 anos. No entanto, uma semana atrás reparei que ela estava grande mais, tipo gravidez de nove meses. Mais um pouco e eu teria que me mudar para Taubaté”, escreveu.

Goes planejava tirar férias este mês, com início no Carnaval. Desde esta quarta-feira, sua coluna é assinada interinamente por Jacqueline Cantore, uma indicação dele próprio.

Tony Goes deixa o parceiro de vida, com quem era casado havia mais de 30 anos, além de irmãos e sobrinhos.

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