Variante Ômicron Foto: Editoria de Arte
Giulia Vidale
O GLOBO
SÃO PAULO — Uma nova variante do coronavírus identificada na África do Sul preocupa as autoridades de saúde do mundo todo. A cepa, que foi nomeada ômicron (B.1.1.529) pela Organização Mundial da Saúde (OMS), parece se espalhar relativamente rápido e já está presente em outros quatro países. Mutações são comuns no coronavírus e são elas que dão origem a novas variantes. Desde o início da pandemia, diversas cepas surgiram, mas, até o momento, apenas quatro foram alvo de preocupação por alterarem negativamente o efeito do vírus no organismo. A ômicron é a quinta delas e, de acordo com o médico geneticista Salmo Raskin, diretor do Laboratório Genetika, de Curitiba, essa é a variante que mais acumulou mutações.
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— Ela tem uma mistura de mutações presentes nas outras quatro variantes de preocupação e ainda tem uma série de mutações inéditas. Esse é o ponto principal que chamou a atenção nela. Embora existem evidências de que ela pode ser mais transmissível e escapar das defesas do sistema imunológico, ainda é muito precipitado fazer qualquer afirmação sobre isso — explica o especialista.
Confira abaixo as respostas para as principais dúvidas sobre a Ômicron:
Onde, como e quando ela surgiu?
A nova variante surgiu na África do Sul. O primeiro caso confirmado da B.1.1.529 foi em um paciente testado no dia 9 de novembro, segundo informações da OMS. Desde então, o país identificou cerca de 100 casos da variante, principalmente em sua província mais populosa, Gauteng. Ainda não se sabe exatamente como ela surgiu. Uma das hipóteses, formulada por um cientista do UCL Genetics Institute em Londres, é que o novo coronavírus tenha evoluído durante uma infecção crônica de uma pessoa imunocomprometida, possivelmente em um paciente com HIV/AIDS não tratado. Acredita-se que outra variante de preocupação, a beta, identificada no ano passado também na África do Sul, pode ter vindo de uma pessoa infectada pelo HIV.
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Por que ela recebeu esse nome?
A OMS utiliza letras do alfabeto grego para nomear as chamadas “variante de preocupação” (VOC) e “de interesse” (VOI). A cepa sul-africana foi classificada como VOC. A terminologia é usada para cepas que alteram negativamente a epidemiologia da doença, por exemplo, ao elevar a taxa de transmissão, mudar os sintomas da doença ou reduzir a efetividade de medidas de saúde, como vacinação e tratamentos. Surpreendendo cientistas do mundo todo, a entidade decidiu usar a 15ª letra e não a 13ª para nomear a nova variante, chamada ômicron. Ainda não há justificativa para essa decisão. Esta é a quinta cepa classificada como variante de preocupação. As anteriores são alfa, beta, gama e delta.
Por que ela se tornou uma preocupação tão rápido?
Essa variante apresenta 50 mutações no total. Isso é quase o dobro do número de mutações da Delta. Apenas na proteína spike, usada pelo vírus para invadir as células e que é alvo da maioria das vacinas contra a Covid-19, são mais de 30. Evidências preliminares sugerem que ela aumenta o risco de reinfecção, é mais transmissível e menos suscetível às defesas geradas pelas vacinas.
Ela é mais transmissível e mais grave?
Dados da África do Sul indicam que ela pode ser mais transmissível. Mas isso não significa que ela seja mais agressiva. Ambas as suspeitas ainda precisam ser confirmadas. A taxa de infecção diária do país quase dobrou na quinta-feira, passando para 2.465 e o número de casos dessa variante parece estar aumentando em quase todas as províncias da África do Sul.
— O número de pessoas que rapidamente foram infectadas em uma semana no país levanta a suspeita de que ela possa ser bem mais transmissível que a delta. Ela tem todas as ferramentas para ser mais infecciosa , para escapar das respostas das vacinas e do próprio corpo. Mas, neste exato momento, é tudo especulação — diz Raskin.
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As vacinas protegem contra a nova cepa?
Algumas das mutações presentes na nova variante indicam que ela pode ser resistente aos anticorpos neutralizantes. Mas, até o momento, não há evidências que as vacinas não são eficazes contra a ômicron. Alguns desenvolvedores de vacinas, como a Pfizer e sua parceira BioNTech, e a AstraZeneca em sua parceria com a Universidade de Oxford, já anunciaram o início de testes para avaliar a eficácia do imunizante contra a nova variante. A expectativa da Pfizer é ter uma resposta dentro de duas semanas.
Ela pode ser detectada pelo exame PCR?
Sim. Diversos laboratórios indicaram que no teste de PCR usado, um dos três genes-alvo para detecção do vírus não é encontrado. Isso é chamado dropout do gene S. No entanto, essa falha não significa que o vírus pode passar despercebido neste teste e oferecer um resultado falso-negativo. Pelo contrário. Indica que o PCR pode ser usado como um marcador para a variante, enquanto a confirmação do sequenciamento é aguardada.
Causa os mesmos sintomas das variantes anteriores?
Até o momento, nenhum sintoma incomum foi relatado após a infecção com a variante B.1.1.529. Como nas outras cepas, há casos de indivíduos assintomáticos.
Em quais países ela já foi detectada?
Além da África do Sul, foram confirmados casos da nova variante em Botswana, Hong Kong, Israel e Bélgica. Para evitar a disseminação da nova variante, países da Europa, Oriente Médio e Ásia suspenderam voos oriundos do sul da África.
Quais medidas o Brasil adotou para impedir que ela chegue aqui?
O ministro da Casa Civil, Ciro Nogueira, anunciou no Twitter que o governo pretende proibir os voos provenientes de seis países africanos a partir de segunda-feira. A decisão segue uma recomendação da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), que pediu a restrição à entrada de passageiros vindos de seis países africanos: África do Sul, Botsuana, Eswatini, Lesoto, Namíbia e Zimbábue. O Ministério da Saúde emitiu um alerta de risco às secretarias de saúde sobre a nova variante. O comunicado orienta as redes para que façam notificação imediata caso haja detecção de casos da nova cepa. Segundo a pasta, em caso de diagnóstico suspeitos em pacientes vindos de países com histórico dessas variantes, as redes devem monitorar viajantes com sintomas por até 14 dias e sem sintomas por até 7 dias.