Cuidados Paliativos: Comunicação é a base para acolhimento paciente-famíla
Christiane Mesquita
A abordagem integrada que tem o objetivo de melhorar a qualidade de vida dos pacientes e familiares diante de doenças, por meio do alívio do sofrimento e tratamento das dores e sintomas físicos, espirituais e psicossocial. Este foi o assunto do 1º Simpósio Cuidados Paliativos de Mato Grosso do Sul. Em seu segundo e último dia de programação nesta manhã (6), na Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), o evento aconteceu por solicitação oficial da Secretaria de Estado de Saúde (SES) e Fundação Miguel Couto ao deputado e 1º secretário da Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS), Paulo Corrêa (PSDB).
“Comunicar, informar e esclarecer, conversar e não impor, mudamos de paradigma e ao transmitir más notícias não é tarefa fácil, nem de um só profissional, nem um jogo de empurra”. Este foi um dos ensinamentos da psicóloga Maria Júlia Kovacs, durante a palestra ministrada com o tema “A comunicação na promoção da dignidade em cuidados paliativos: desafios para a equipe multidisciplinar”.
Maria Júlia Kozacs, também falou sobre sua história em cuidados paliativos. “Sou militante em cuidados paliativos, em 1993, eu tive uma experiência fascinante, quando li um livro sobre o assunto. Em Londres, em uma aula ministrada por Cicely Sounders, tive o privilégio de ver na prática o que eram os cuidados paliativos e a comunicação necessária. Uma das frases e Saunders era ‘O sofrimento só é intolerável quando ninguém cuida’”, informou a psicóloga.
“Na comunicação, é importante lembra das dores, são físicas, espirituais, e até de abandono. Uma das coisas mais importantes é que entender a dor numa dimensão maior e a empatia é fundamental, sem ela nada podemos fazer, e isso é entrar no mundo do outro, como se fosse o outro, ouvindo com os ouvidos e tentar ver com os olhos dessa pessoa. A compaixão não funciona sem a empatia, e ela é necessária nessa integração paciente-família”, ressaltou a palestrante.
Por fim, uma das últimas questões abordadas pela profissional foi sobre o luto. “Verdade é tudo aquilo que é construído. É necesário também falar sobre o luto antecipatório, que é luto pela perdas de situação significativas da vida, devido as mudanças drásticas, tais como divórcio, falência, exílio, pois são situações que certa harmonia é rompida. E essas situações fazem parte da vida, há formas de lidar com esse tipo de crise”, avaliou a psicóloga Maria Júlia Kovacs.
MESA – Os temas das perguntas que integraram o plenário variaram sobre o acolhimento adequado do paciente e família e como podem se proteger e trabalhar esse sofrimento que reverbera nos profissionais, recusa ao tratamento; capacitação em cuidados paliativos dirigida aos técnicos de enfermagem, em relação a família não ter a estrutura para aceitação do óbito em casa, e orientação sobre a telemedicina.
A mesa teve como mediadora Érica Abel Silva, médica visitadora do setor Unimed em Casa da Unimed Campo Grande, membro do Conselho curador da Fundação Miguel Couto de Ensino, Pesquisa e Extensão; a psicólogo e palestrante Maria Júlia Kovacs; Marcela Ramone do Nascimento, médica do Serviço de Cuidados Paliativos e diretora-técnica do Hospital Unimed Campo Grande; a médica geriatra Priscila Takahashi de Faria, especialista em cuidados paliativos na Unimed Campo Grande; e a enfermeira Michele Batiston Borsoi, paliativista na coordenação de doenças crônicas da Secretaria de Estado de Saúde (SES).
DEPOIMENTO – Alessandra Pereira, estudante de enfermagem da Universidade da Grande Dourados (Unigran) comoveu os presentes no Plenário Júlio Maia. Ele fez um depoimento sobre a sua vivência com os cuidados paliativos. “Minha mãe sofreu um acidente de moto, ficou 14 dias entubada, teve uma parada cardíaca na Unidade de Terapia Intensiva, e foi encaminhada aos cuidados paliativos. Mesmo eu cursando enfermagem, não tinha conhecimento sobre isso, e agora quero me especializar na área. Pensava que ela ia morrer no setor de cuidados paliativos, e a psicóloga veio me esclarecer qual era o significado. Ela passou pela traqueostomia, ficou internada mais 25 dias na Santa Casa, e foi internada no São Julião por quatro meses, durante esse tempo sempre o psicólogo me esclarecendo. Foi um baque, só eu e meu padrasto, medo dela morrer, e estamos há dois anos em cuidados paliativos, é irreversível a lesão. A equipe de cuidados paliativos é muito importante para o paciente e para a família”, testemunhou.
A médica Érica Abel Silva destacou a importância do momento para a carreira de Alessandra Pereira. “Essa é uma oportunidade de estar com sua mãe e estar com pessoas e conhecimento, e suporte de passar com isso de forma mais tranquila e melhor, com menos sofrimento, pois esse é o grande objetivo do cuidado paliativo e a gente sabe que atualmente essas situações acontecem e é difícil lidar com isso instituir uma rede de apoio aos pacientes”, relatou.