Países não solucionam criminalidade porque não há vontade, diz Bukele
“O que incomoda muitos governos é que El Salvador mostra que tudo pode ser feito de boa vontade”, disse o líder após votar em San Salvador, a capital do país. “E quando um país não resolve seus problemas, especialmente de criminalidade, é porque não há vontade de resolvê-los. Em alguns casos, porque eles [autoridades] são parceiros de criminosos.”
“Falei algumas vezes com o presidente Lula. Mas ele nunca mencionou a questão da segurança pública para mim. Imagino que tenha sua própria maneira de abordagem e de lidar com a situação”, afirmou.
Com 70,25% das urnas apuradas pelo TSE (Tribunal Supremo Eleitoral) do país, Bukele registrava mais de 80% dos votos válidos, enquanto os candidatos Manuel Flores, da FMLN (Frente Farabundo Martí de Libertação Nacional), e Joel Sánchez, da Arena (Aliança Renovadora Nacional), somavam, juntos, cerca de 15% —os opositores pertencem às tradicionais siglas da esquerda e da direita salvadorenha, respectivamente.
Bukele disse duvidar que a receita de El Salvador para combater a criminalidade possa ser “copiada e colada” por outros Estados. Ele afirmou, contudo, que seu país —descrito por ele como pequeno e pobre— pode servir de exemplo para outras nações.
Considerado referência para setores da direita na América Latina, Bukele ganhou popularidade após implementar políticas linha-dura de combate à criminalidade em El Salvador. Por anos, a insegurança foi a maior fonte de preocupação dos salvadorenhos —o país figurava entre os mais perigosos do mundo.
Em 2015, um dos anos mais violentos da história recente de El Salvador, mais de 106 pessoas foram assassinadas para cada 100 mil habitantes. A título de comparação, no mesmo ano, a taxa de homicídios dolosos no Brasil foi de 25,7 por 100 mil, segundo o Anuário Brasileiro de Segurança Pública.
A situação mudou nos últimos anos, sob o governo de Bukele. Atualmente, nove em cada dez habitantes dizem se sentir seguros na nação centro-americana. Para chegar a esses números, o líder eliminou praticamente todos os contrapesos da jovem democracia local e lançou uma enorme operação de encarceramento em massa.
No pacote do “milagre salvadorenho”, como as políticas de Bukele vêm sendo chamadas, vigora um estado de exceção renovado todos os meses há quase dois anos. O instrumento, aplicado pela Assembleia governista após uma onda de violência que fez 87 vítimas em um único fim de semana de março de 2022, suspende o direito de associação e reunião, cessa a inviolabilidade das comunicações e priva os cidadãos do direito de serem imediatamente informados sobre o motivo de eventuais detenções que sofram.
Hoje, o país tem mais de 100 mil presos —em grande parte inocentes, segundo diversas organizações de direitos humanos— em um universo de 6 milhões de habitantes.