Lula prepara discurso de Natal em que defende ‘virar página do ódio’, na contramão de falas recentes
A ideia da fala é passar uma mensagem de união e de otimismo, com balanço da retomada de políticas públicas e a expectativa de melhora na economia em 2024.
O pronunciamento em cadeia de rádio e TV está previsto para durar ao menos cinco minutos, sendo o mais longo entre os dois anteriores que fez no primeiro ano de seu terceiro mandato. Segundo relatos, Lula gravou três versões de vídeos.
Aliados do presidente lembram que o lema de seu primeiro ano é o da reconstrução e o da união. A véspera do Natal será o ensejo para que o presidente defenda a superação de desavenças políticas dentro das famílias brasileiras.
Lula já vinha pedindo em muitas falas que as famílias deixassem de lado as brigas ideológicas e voltassem a se unir, em particular nas festas de fim de ano.
Essa postura, no entanto, contrasta com outros discursos, no qual mantém ataques ao seu antecessor, Jair Bolsonaro (PL), e seus apoiadores, e assim segue estimulando a polarização política.
Dois dias antes, em inauguração de um contorno rodoviário na BR-101 em Serra (ES), o petista elevou o tom dos ataques e chamou o ex-presidente de “facínora” e “aquela coisa”, além de acusar o adversário político de “usar a fé dos evangélicos”. Lula também já chamou Bolsonaro de “gente ruim” por liderar um governo que “gostava de brigar”.
O chefe do Executivo também deve mencionar os ataques de 8 de janeiro para reforçar que a democracia saiu vitoriosa neste ano, após o atentado às instituições. O governo prepara um grande evento no Senado, com presidentes dos três Poderes e autoridades para marcar o aniversário do evento em Brasília.
Lula também deve seguir a tradição dos pronunciamentos de fim de ano para realizar um balanço das ações. Focará a retomada e novo impulso dado aos programas sociais, como o Bolsa Família e o Minha Casa Minha Vida.
O mandatário repetiu algumas vezes nos últimos dias que o governo já obteve avanços no primeiro ano do terceiro mandato, mas que os resultados principais das “sementes que foram plantadas” ainda não surgiram, indicando um otimismo com o futuro. Esse tom será retomado em seu pronunciamento.
Ainda em relação ao otimismo, Lula vai mencionar as perspectivas para o Brasil em relação à transição energética e a questão ecológica. O governo petista vem alardeando que o país tem a possibilidade de se tornar uma referência nessas questões, uma Arábia Saudita da energia verde.
A primeira-dama Rosângela da Silva, a Janja, não participará do pronunciamento. Nos anos de 2020 e 2021, Bolsonaro inovou ao incluir fala de Michelle Bolsonaro, como maneira de diminuir a sua rejeição. Pesquisas mostravam que a então primeira-dama era bem avaliada pelo público.
Os dois outros momentos em que Lula falou em cadeia de rádio e TV em 2023 foram às vésperas do Dia do Trabalho, 1º de maio, e também antes das festividades do Dia da Independência.
O pronunciamento na proximidade do 7 de Setembro já havia sido marcado pelo pedido de união e superação do ódio. “Amanhã não será um dia nem de ódio, nem de medo, e sim de união. O dia de lembrarmos que o Brasil é um só. Que sonhamos os mesmos sonhos”, afirmou o presidente na ocasião.
Naquele momento, no entanto, não houve uma menção direta aos eventos de 8 de janeiro. Isso porque avançavam as investigações contra militares, e o governo almejava reconstruir uma boa relação com as Forças Armadas.