O holocausto palestino na Faixa de Gaza

O holocausto palestino - Roberto Amaral - Brasil 247Rafic Ayoub

A Síndrome de Estocolmo define um estado psicológico vivenciado pelas vítimas em relação a seus agressores e após um tempo prolongado de submissão, intimidação, tortura e todos demais tipos de violência, acabam nutrindo um sentimento de admiração, simpatia e de adoração pelos seus algozes, incorporando, por fim, seus nefastos atributos.
Apesar de todo sofrimento, violência e política de extermínio e limpeza étnica que culminou tristemente com o holocausto judeu durante a II Grande Guerra Mundial, Israel parece ter desenvolvido essa tão deplorável síndrome.
Claramente fascinado, acometido e inspirado pelos ideais nazistas e apoiado no poderio bélico assegurado historicamente pelo governo norte-americano, Israel continua perseguindo seu insano ideal de reconstrução do “Grande Israel “ bíblico, mesmo que para isso tenha que exterminar seus vizinhos milenarmente alí instalados.
E nesse jogo sujo jogado de forma desumana e desigual, a banalização da vida na Palestina, em especial, na chamada Faixa de Gaza, beira ao surrealismo enquanto que, curiosamente, estratifica-se a morte, com a atribuição de maior ou menor valorização de acordo com os “certificados de origem”, emitidos sob critérios vergonhosos de nacionalidade, cor, religião e, quem sabe, cor dos olhos, cabelos, sexo, etc .
Graças ao didatismo dos poderes militares israelenses de plantão, aprendemos hoje que a vida de judeus vale infinitas vezes mais do que os infelizes palestinos, mortais comuns, primos pobres e, ironicamente, também semitas!.
Por isso mesmo, perturba, choca e fere profundamente qualquer senso de dignidade, essa insensibilidade amoral e coletiva que alimentamos confortavelmente em nossas casas , a cada vez que um “terrorista palestino”se implode em praça pública, sujando de sangue a consciência asséptica das capitais do auto-proclamado mundo civilizado.
Aprendemos a nos submeter, servil e docemente e apenas para aplacar a nossa consciência, à sórdida manipulação de valores e de palavras usadas nas guerras de informação travadas paralelamente pela parte que de fato detém o poder econômico e domínio sobre a mídia global.
E nesse sentido, achamos um verdadeiro absurdo não a causa mas o efeito dos atos suicidas daqueles infelizes palestinos que, apátridas e privados de seus direitos mais elementares, radicalizam seu desespero num último esforço de serem ouvidos, oferecendo sua vida em holocausto.
Mas isso parece não ter nenhuma importância, afinal de contas, são apenas ” terroristas árabes, palestinos ou islamitas”, não é mesmo?
Ao contrário dos atos de bravura “fakes” explorados ad-nauseum pelo cinema norte-americano, para esses “terroristas” e verdadeiros heróis em carne e osso, a vida impõe causas que a fazem valer a pena de ser vivida.
A morte para os palestinos é o último argumento contra a insensibilidade mundial em relação aos seus históricos sofrimentos e cada vez mais inaudíveis apelos pela sobrevivência de suas crianças e gritos de liberdade e independência!
Para um povo espoliado em seus direitos mais elementares e em sua própria dignidade, exilado e refém em sua própria pátria, numa insólita condição que a chamada civilização ocidental teima em “varrer para baixo do tapete”, não existem alternativas a não ser morrer lutando.
Para a “civilizada civilização ocidental”, resta esconder a vergonha de ter que contar para seus filhos sua cumplicidade e conivência covarde com mais um abominável capítulo da degradação humana que Israel, a exemplo deplorável do nazismo, promove hoje em mais um novo capítulo de extermínio motivado abjetamente pela intolerância racial, religiosa, cultural e étnica,
O que é preciso para que a imprensa e a opinião pública em geral saibam e tenham a coragem de informar e esclarecer, é que o pioneirismo das ações e práticas de “terrorismo” em todo o Oriente Médio não é árabe.
Em 1948, em ação estrategicamente sincronizada, organizações terroristas judaicas como Irgun, Haganah e Stern, etc. num bárbaro atentado, explodiram o QG das forças britânicas instalado no Hotel Rei David, na Palestina, já escrevendo com sangue inocente o inicio da história de fundação do atual Estado de Israel.
Para essas organizações judaicas e os historiadores convenientemente de plantão, este ato não foi terrorismo, mas sim, um ato legítimo de defesa contra a ocupação das terras que julgavam suas. Na realidade, este é apenas um dos diversos fatos que marcaram a ação terrorista dessas organizações judaicas na região, com a mesma violência que hoje tanto condenam nas ações de legítima defesa do povo palestino, em sua reação contra a invasão e usurpação de suas terras.
Lamentavelmente, a história é escrita pelos vencedores, caso contrário, todos os movimentos de resistência europeus que enfrentaram a invasão e ocupação alemã durante a II Guerra Mundial, como os Maquis, na França, e os Partisans e/ou Partisanis, na Iugoslávia e Itália, sem falar dos movimentos clandestinos judeus que operaram diretamente dos guetos na Polônia, por exemplo, teriam que ser considerados os precursores do terrorismo da era contemporânea.
O historiadores modernos , porém, contrariamente ao tratamento que conferem hoje aos legítimos movimentos de resistência palestinos que lutam contra a invasão e ocupação de suas terras e o cruel assassinato de suas crianças e de seus líderes, reservam a essas organizações judaicas tributos e honras de estado, além de considerarem seus integrantes como “heróis”, apesar de seus respectivos passados “terroristas”.
Por que o Hamas ou o Hesbollah não recebem o mesmo tratamento, se efetivamente são legítimos movimentos de resistência contra a invasão e ocupação de suas respectivas pátrias ? Cinicamente, esquecido de seu passado também manchado de sangue e vergonha, o governo israelense exige que a opinião pública mundial julgue o Hamas, primeiro, como “terroristas”, e em segundo, em condição de igualdade. Ou seja, como um inimigo poderoso a exemplo dele e que o invade e ocupa, o que, convenhamos, seria cômico se não fosse trágico!
Esse discurso sacana e desonesto de Israel em relação aos palestinos expressa o mesmo absurdo que, por exemplo, um estuprador exigir que a sua vítima não reaja a tamanha e inaceitável violência a ela imposta e submete!
Como se fossem fatos de um mundo e de uma História diferentes, os nunca julgados e nunca punidos massacres cometidos contra o povo palestino em Deir Yassin e nos acampamentos de refugiados palestinos no Líbano, de Sabra e Chatila, em 1982 e o mais recente, na aldeia libanesa de Qana, quando foram mortos dezenas de civis, em sua maioria crianças, tem poucos paralelos na história recente da humanidade.
Por mais que a opinião pública seja manipulada por Israel, é muito importante lembrá-la de que, por infinitamente menos do que os crimes ocorridos nos campos de refugiados de Sabra e Chatila, no Líbano , os líderes sérvios Slobodan Milosevic e Radovan Karadzic, foram levados a julgamento no Tribunal Internacional de Haia, por crimes de extermínio e limpeza étnica.
Hoje, é forçoso reconhecer, poucos povos tem autoridade suficiente para falar de dor e sofrimento, como o povo judeu. Da mesma forma, ninguém mais do que Israel viveu e sobreviveu à angústia da luta do mais fraco contra o mais forte, já desde os tempos bíblicos, quando o pequeno Davi venceu o gigante Golias.
E se é verdade que a História se repete, o outrora pequeno David parece ter ressurgido agora forte, poderoso e intolerante, na pele de Golias.
Que o mundo ocidental possa ver com esses mesmos olhos benevolentes, compreensivos e justos com os quais tem visto Israel, seus heróis e sua história, também a determinação patriótica e heroica desses pequenos e bravos Davids palestinos que, abandonados à própria sorte, acreditam pobre e inocentemente em pedras vencendo canhões.
E hoje, a cada nova bomba que explode na Faixa de Gaza, escrevemos mais uma página histórica de triste memória para todos os homens de bem que, felizmente, continuam sendo a maioria nesse mundo tão cheio de falsos estadistas e tão carente de lideranças comprometidas com a verdadeira paz no mundo.
E da mesma forma que a desamparada Palestina, a mesma e velha história volta a se repetir hoje no Irã, na Síria, no Egito, no Líbano, na Líbia, no Sudão, no Iraque, na Somália e em todo o chamado “Chifre da África” contra a autodeterminação dos povos!
A exemplo de Cartago, na antiguidade, os novos Ciceros incrustrados a peso de ouro no Capitólio americano, como golems programados do poder de plantão, continuam a decretar o destino daqueles que contrariam seus interesses, apoiados na certeza conivente da ridiculamente decorativa ONU e do parcial e desacreditado Tribunal Internacional de Haia.
Diante disso, resta uma inquietante pergunta que não quer calar: quem pode deter Israel ?
A resposta mais óbvia indica que são os EUA. Porém, uma anedota corrente nos círculos políticos de Washington afirma que o poder de decisão do presidente Joe Biden hoje é tão restrito que ele sequer tem a opção de escolher entre açúcar ou adoçante para adoçar o café que lhe é servido.
Além do poder político exercido pelo forte lobby judeu que controla as duas casas do congresso norte-americano, os israelenses controlam ainda o Federal Reserve (FED), o banco central dos EUA e banco de compensações do sistema financeiro internacional e, ao mesmo tempo, o poder financeiro que controla cada vez mais as economias do chamado mundo ocidental. Ou seja, eles detém o poder político, militar, econômico e financeiro do mundo!
A consciência de todo esse poder é que provavelmente explica toda arrogância e impertinência do Estado judeu que, apesar de condenado através de inúmeras resoluções da ONU pelas contínuas violações dos acordos com seus vizinhos árabes, jamais se submeteu ao cumprimento de qualquer uma delas. Afinal, quem poderia obrigá-lo a isso?
O típico exemplo dessa arrogância israelense pode ser comprovado mais uma vez diante da decisão brasileira de condenar a força inegavelmente desproporcional de seus ataques na Faixa de Gaza, contra alvos civis e assassinando crianças, mulheres e idosos refugiados nos abrigos da nem sempre isenta ONU.
Contrariada com essa decisão soberana do Brasil, a chancelaria israelense preferiu atacar o país e a diplomacia brasileira, numa reedição vergonhosa e cínica do clássico “ cuspir no prato em que comeu”. A Ingrata diplomacia Israelense se esqueceu muito rapidamente de que a criação do Estado de Israel, em 1948, só ocorreu graças ao papel do embaixador brasileiro na ONU, Oswaldo Aranha, então presidente rotativo da sessão plenária naquela oportunidade.
Em nome da dignidade, da ética e da decência, que se repatriem imediatamente ao Brasil as estátuas e bustos de Oswaldo Aranha espalhados em Tel Aviv como símbolos de uma gratidão que Israel já não reconhece mais!
[18:25, 23/02/2024] Valter Sindjorms: Jornalista Rafic Ayoub

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