HISTÓRIA – Dos campos de futebol para a área jurídica

Da Assessoria TJMS

Foi num cruzamento feito pelo zagueiro Revair Lopes Jesuíno aos 23 anos de idade que ele decidiu trocar os gramados pelos mandados judiciais. No entanto, passados 41 anos como oficial de justiça, o dedicado servidor jamais pendurou totalmente as chuteiras.

Como a maior parte dos craques, Revair começou cedo a carreira no futebol. Aos 16 anos já defendia profissionalmente o Sociedade Esportiva Industriária (Sei). “Jogávamos de igual para igual contra o Operário e o Comercial, tanto que o nosso time chegou a ser o 3º colocado no campeonato estadual, quando ainda só havia Mato Grosso”, lembra de forma solene.

Descoberto, o jovem talento logo foi contratado por outros times, fazendo rápidas passagens pelo Mixto, Operário, Comercial, Taveirópolis e Dom Bosco de Cuiabá. Mais tarde, rumou para a região do Pantanal mato-grossense. Primeiro, atuou na zaga do Cacerenses, time de Cáceres também conhecido como Crocodilos do Pantanal. Posteriormente jogou pela equipe da cidade de Barra do Garças.

“Foi nessa época que eu vim passar as férias em Campo Grande e acabei sendo convidado por um amigo para jogar no Forense, um time do Poder Judiciário que era composto por servidores, juízes, desembargadores e procuradores. O time estava participando de um campeonato e fomos até Minas Gerais jogar. Vencemos o torneio naquele ano”.

Com a vitória veio o convite inesperado. “Eu fiz amizade com todo o time durante as partidas e quando ganhamos o campeonato me convidaram para trabalhar no Judiciário como oficial de justiça ad hoc. Mas abandonar a carreira no futebol para ingressar no serviço público não foi uma decisão fácil”.

Revair optou pela substituição guiado pelos conselhos de sua namorada na época que o alertou para a aposentadoria precoce dos jogadores de futebol e sobre os benefícios de uma carreira estável em um órgão público. Então o zagueiro trocou a camisa 3 pela do Judiciário. Tão logo foi nomeado, veio a abertura de concurso para o cargo de auxiliar e ele decidiu por aproveitar mais essa oportunidade. Assim, em 18 de agosto de 1983 tomou posse, definitivamente, como servidor do TJMS, lotado como oficial de justiça vinculado à 2ª Vara Cível.

“Eu continuei a jogar, mas agora pelo Forense. O time seguiu por mais uns 15 anos, até o falecimento do juiz Amilcar Silva, que era apaixonado por futebol. Foi uma época muito boa. Posso afirmar que viajamos por todo o interior do Estado jogando. Muitas vezes não dava quórum, então tínhamos que pegar servidores das comarcas onde estávamos para integrar o time. Com isso, conheci vários colegas, fiz muitas amizades. 90% dos meus amigos são do TJ. Se disser ‘Tucho’, meu apelido, todo o pessoal mais antigo sabe quem é”.

O servidor também conta que o extinto time do Judiciário ultrapassou as fronteiras sul-mato-grossenses, tendo jogado em cidades do Rio Grande do Sul como Caxias do Sul, de Santa Catarina como Joinville e Blumenau, além de ter percorrido vários municípios do interior de São Paulo.

Embora o Forense não tenha resistido aos anos, tanto a carreira de oficial de justiça quanto a paixão pelo futebol de Revair mantêm-se firmes até hoje. “Estou com 63 anos, 4 filhos e nenhuma lesão. Nunca deixei o futebol, nem minha função de oficial, que sempre cumpri nos ditames da lei. Hoje estou no abono de permanência, mas ainda não consigo me ver aposentado. Vou trabalhar até o último minuto, até o dia em que eu aguentar. Eu não sei ficar parado”.

De fato, o servidor permanece ativo, cumprindo diligências e jogando por vários times amadores de Campo Grande nas horas vagas. Não bastasse, todas as quintas-feiras reúne-se com outros colegas do trabalho para jogarem no Sindijus.

Sobre ainda considerar acertada a decisão de deixar a carreira de jogador profissional para assumir a de servidor público, Revair é enfático: “uma coisa da qual nunca me arrependi foi trabalhar no Judiciário. Se tivesse continuado como jogador de futebol, minha carreira teria se encerrado aos 31, 32 anos. Estaria aposentado, com um benefício pequeno. Graças a Deus hoje estou seguro, com sentimento de dever cumprido. Fiz tudo o que pude e trabalhei com honestidade e justiça”.

Aos colegas com menos anos no time de trabalho do Tribunal, Revair deixa um manual de verdadeiro fairplay no exercício da função que dominou após 4 décadas de trabalho. “Ser oficial de justiça não é fácil. Você está lidando com pessoas diferentes, de níveis culturais diferentes, por isso é preciso saber abordá-las. Oficial de justiça não é se impor, não é bater no peito e agir com superioridade. É chamar a pessoa para conversar, explicar a situação, acalmá-la. Seguir com carinho e dedicação, é o que eu fiz todos esses anos de trabalho”, conclui como o campeão que sempre foi.

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