Tríplice fronteira, documentos falsos e relação com traficantes: entenda os interesses do Hezbollah no Brasil

PF deflagrou a operação Trapiche, que prendeu temporariamente dois homens suspeitos de ligação com o grupo terrorista
Por 

Eduardo Gonçalves 

— Brasília

 

Nesta quarta-feira, a PF deflagrou a operação Trapiche, que prendeu temporariamente dois homens suspeitos de ligação com o Hezbollah. Segundo as apurações, eles estavam levantando informações sobre sinagogas e centros judaicos que poderiam virar alvo de ataques em represália às ofensivas de Israel na Faixa de Gaza. Os mandados foram cumpridos em São Paulo.

A região da tríplice fronteira atrai as organizações criminosas em função das diversas casas de câmbio e do forte fluxo de mercadorias que atravessam a alfândega dos três países, entre elas as ilegais, como drogas e armas. O sistema financeiro paralelo é usado em esquemas de corrupção, no narcotráfico e para financiar terrorismo, apontam as investigações.

Em apurações passadas, a PF já havia identificado um suposto financiador do Hezbollah em solo brasileiro e a associação do grupo com uma facção criminosa de São Paulo, que vende toneladas de cocaína para o exterior.

Apontado pelo governo norte-americano como patrocinador da organização paramilitar, o libanês Assad Ahmad Barakat foi preso em Foz do Iguaçu, em 2018 — ele também possuía nacionalidade paraguaia. A prisão dele foi autorizada pelo Supremo Tribunal Federal. A PF apontou que ele lavava dinheiro para o grupo radical por meio de cassinos na Argentina. Ele foi extraditado ao Paraguai em 2020 em função de uma denúncia por falsidade ideológica.

Outra investigação da PF levantou indícios de que traficantes ligados ao Hezbollah se associaram com integrantes de uma facção criminosa de São Paulo. O dinheiro da droga seria uma das fontes de financiamento do grupo terrorista.

Conforme a apuração, os libaneses abriam canais aos brasileiros no mercado ilegal de armas. E, em troca, recebiam proteção em presídios controlados pela organização criminosa.

O passo a passo da operação que deteve atentados contra alvos judeus no Brasil — Foto: Editoria de arte
O passo a passo da operação que deteve atentados contra alvos judeus no Brasil — Foto: Editoria de arte

Dois alvos da operação de hoje tinham dupla nacionalidade – brasileira e libanesa – e se encontram fora do país. O nome deles foi incluído na difusão vermelha da Interpol.

Investigações da PF indicam que o Brasil também é atrativo para criminosos que buscam identidades novas devido ao tamanho continental do país e o sistema descentralizado de cartórios. É possível, por exemplo, viabilizar documentos de identidades com números de identificação diferentes nas 27 unidades da federação, já que não há um banco de dados que integre as informações estaduais. Justamente por isso, o governo federal está implantando uma carteira de identidade nacional, em que o CPF será usado como um número único de identificação em todo o país.

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