Mulheres ganham espaço na NFL e esperam quebrar novas barreiras
Super Bowl terá árbitra pela primeira vez e duas integrantes de comissão técnica
Gillian R. BrassilKevin Draper
As pioneiras do futebol americano surgiram com rapidez nos últimos 12 meses: a primeira mulher a participar da comissão técnica de um time de Super Bowl. A primeira mulher a trabalhar como árbitro em um Super Bowl. A primeira mulher negra a ser contratada para uma comissão técnica da NFL.
E elas mal podem esperar para ter muito mais companhia.
Outros esportes profissionais tiveram momentos de inovação, igualmente, nos últimos 12 meses. O Miami Marlins contratou Kim Ng como primeira diretora-geral da história da MLB, e Becky Hammon foi a primeira mulher a trabalhar como treinadora principal em um jogo da NBA.
Jen Welter, a primeira mulher a trabalhar como treinadora na NFL, disse que inicialmente recusou a primeira proposta que recebeu para trabalhar em um time masculino –na liga Champions Indoor Football– porque se preocupava com a possibilidade de se sentir isolada.
“Eu fui uma atleta muito vitoriosa –duas medalhas de ouro, oito participações no Pro Bowl– e também tinha mestrado em psicologia do esporte e doutorado em psicologia, mas meu instinto foi dizer não, porque não havia outras mulheres”, disse Welter em entrevista por telefone recente. “E representação faz diferença.”
Callie Brownson, diretora de pessoal do Cleveland Browns, disse que os jogadores não se incomodaram quando ela teve de assumir o posto de treinadora de tight ends por dois jogos, e de wide receivers por um, nesta temporada, quando os responsáveis por esses postos estavam de licença-paternidade ou afastados por possível contato com pessoas infectadas pelo coronavírus.
“Lembro-me de me aproximar dos tight ends na quarta-feira e dizer ‘ei, sou eu que vou treinar vocês neste final de semana’”, ela recordou em uma entrevista por telefone. “E a reação deles foi dizer que tudo bem, vamos treinar, então. Isso foi um momento forte para mim como mulher.”
Mas Brownson disse ter encontrado resistência em outros quadrantes. Ela recorda que pelo menos uma entrevista de emprego a que compareceu parecia só uma formalidade, e que ouviu piadinhas insultuosas –entre as quais “é engraçado ouvir uma mulher falando sobre rotas”— de homens de dentro e de fora do esporte.
Como Trask, disse Brownson, “eu aguardo os dias em que deixaremos de comentar que ‘ela é a primeira’ isso ou aquilo, porque todas essas coisas já estarão feitas e as mulheres poderão assumir os postos que quiserem no treinamento, na seleção de atletas e nas operações”.
Al Davis, antigo proprietário dos Raiders e responsável pela contratação de Trask, também contratou Tom Flores, o primeiro treinador principal membro de uma minoria a vencer um Super Bowl, e Art Shell, o primeiro treinador principal negro da NFL desde a década de 1920.
“Era um homem que contratava sem se preocupar com raça, gênero ou qualquer outra individualidade que não tivesse influência sobre a maneira pela qual a pessoa fazia seu trabalho”, disse Trask sobre Davis, que inicialmente a contratou como estagiária, em 1983, quando o time era sediado em Los Angeles e ela era estudante de Direito e resolveu ligar para o Raiders e pedir um emprego.
“Era algo que ele fazia décadas e décadas antes que a questão passasse a ser discutida no mundo do futebol americano, no mundo do esporte e em boa parte do mundo mais amplo”.
As contratações fora do padrão parecem se concentrar em algumas organizações, como os Raiders e o Tampa Bay Buccaneers, que enfrentará o Kansas City Chiefs no Super Bowl do domingo.
Os Buccaneers terão duas mulheres em sua comissão técnica –Lori Locust, treinadora assistente da linha defensiva, e Maral Javadifar, preparadora física assistente—, apenas um ano depois que Katie Sowers, do San Francisco 49ers, se tornou a primeira mulher a treinar um time de Super Bowl. E no domingo (7), Sarah Thomas se tornará a primeira mulher a trabalhar como árbitro de Super Bowl.
O treinador dos Buccaneers, Bruce Arians, que fez história ao contratar Welter como estagiária no Arizona Cardinals em 2015, também tem a única comissão técnica da NFL na qual tanto o coordenador defensivo quanto o coordenador ofensivo são negros.
A liga vem promovendo diversas iniciativas de diversidade, para conduzir mais mulheres e mais pessoas não brancas a postos nas comissões técnicas, ao longo dos anos, entre as quais a Bill Walsh Diversity Coaching Fellowship, criada em 1987, e o Women’s Careers in Football Forum, iniciado em 2017.
A maioria das mulheres que trabalham em comissões técnicas da NFL foram trazidas por meio de um desses programas.
Algumas, como Jennifer King –promovida recentemente pelo Washington Football Team a um cargo de período integral, a primeira mulher negra a atingir essa posição em uma comissão técnica da NFL–, contaram com apoio financeiro do Scott Pioli & Family Fund for Women Football Coaches and Scouts, que leva o nome de um antigo executivo de futebol americano e é administrado pela Women’s Sports Foundation.
Ainda que as mulheres tenham a esperança de que suas fileiras continuem a se expandir, a diversidade racial limitada nas comissões técnicas da liga indica a possibilidade de um recuo. O maior número de treinadores principais não brancos nos times da NFL foi de oito –e isso aconteceu pela última vez em 2018. O número é igual ao de mulheres hoje empregadas nas comissões técnicas da liga.
Hoje, em uma liga com 70% de jogadores negros, apenas três treinadores principais são negros, e apenas dois outros atendem aos critérios de diversidade na contratação definidos pela NFL.
A NFL não respondeu a múltiplos pedidos de entrevista para este texto.