Brandon Lee: Como foi o tiro acidental que matou filho de Bruce Lee durante gravação de ‘O corvo’
BLOG DO ACERVO/ O GLOBO
Faltavam apenas três dias para o fim das gravações do filme “O corvo”. Brandon Lee já tinha atuado em quase todas as suas cenas quando, na manhã de 31 de março de 1993, uma tragédia aconteceu. Naquela quinta-feira, o filho do mestre das artes marciais Bruce Lee rodaria uma sequência de flashback mostrando o momento em que seu personagem, o herói gótico Eric Draven, entra num apartamento e flagra sua noiva sendo espancada e estuprada por bandidos.
No longa, baseado na HQ de mesmo nome, Draven é um músico assassinado que retorna ao mundo dos vivos para se vingar da sua morte e de sua amada. Portanto, a cena do flashback é crucial para a história. Durante a ação, o protagonista deveria ser alvejado e morto pelo criminoso Funboy, interpretado pelo ator Michael Massee, usando um revolver Smith & Wesson Magnum 44 carregado com balas de festim. Foi nesse momento em que ocorreu algo inesperado.
É muito comum, em sets de filmagem, a utilização de armas verdadeiras carregadas com balas de festim, que são cartuchos desprovidos de uma ponta perfurante, ou projétil, mas contendo uma quantidade de pólvora maior do que o normal. Desta forma, ao ser acionada, a arma gera muitas faíscas e um estampido, proporcionando o impacto desejável numa ficção, mas sem disparar nenhuma parte da munição.
Entretanto, para uma cena anterior ao flashback de “O Corvo”, a equipe de produção carregou o revólver com as chamadas dummy bullets (balas inertes), que se parecem com munição de verdade, mas não têm pólvora nem propelente, ou seja, são meramente decorativas. A ideia era que, quando a arma fosse filmada de perto, a cena teria mais realidade. Contudo, a produção se esqueceu de remover uma parte da base da bala chamada primer, que funciona como um isqueiro, ao promover a igninção da munição quando o gatilho é acionado. Este pode ter sido o maior erro do episódio, que custou a vida de Brandon Lee, na época com 28 anos de idade
Em algum momento antes da cena do tiro, o revólver foi acionado. Ainda que não houvesse pólvora na bala, a energia gerada no primer foi suficiente para separar a ponta perfurante do casing (corpo da bala). Assim, o projétil foi impulsionado e ficou perigosamente preso no cano do Smith & Wesson.
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Antes da gravação do flashback, quando o personagem deveria levar um tiro a quatro metros de distância, o revolver foi devidamente carregado com balas de festim, que contam com o primer e um volume grande de pólvora, mas não têm a ponta perfurante. Acontece que a produção não verificou a arma com cuidado e, portanto, quando Michael Massee puxou o gatilho, a munição de festim foi acionada e gerou bastante energia para projetar a ponta da bala que tinha ficado presa no cano com a mesma força de um tiro normal, alvejando Brandon Lee no abdôme.
No filme, Draven deveria cair para frente, mas Lee caiu de costas no chão. Quando o diretor Alex Proyas (“Cidade das sombras”, “Eu, robô) gritou “corta”, o ator continou deitado. De início, algumas pessoas acharam que ele podia estar brincando, mas logo alguém percebeu que o artista estava inconsciente. Um médico o examinou, mas não havia sangramento externo, e o pulso estava normal. Minutos depois, porém, os batimentos cardíacos do ator caíram rapidamente. Lee foi levado às pressas para um hospital de Wilmington, na Carolina do Norte, onde as filmagens aconteciam, mas, após seis horas de cirurgia, o ator foi declarado morto, às 13h03.
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Após a morte do protagonista do filme, os produtores cogitaram abandonar o projeto. Mas, como Lee já tinha gravado quase todas as suas cenas, os responsáveis decidiram seguir adiante, com o apoio da família do ator, que se casaria em abril daquele ano. Após alguns ajustes no roteiro, o restante das gravações foi retomado. Distribuído pela Miramax, o longa-metragem teve bom desempenho de bilheterias nos Estados Unidos e foi elogiado por maior parte da crítica de cinema, que destacou a competente atuação de Brandon Lee. Algumas resenhas da época afimaram que a performance poderia ter impulsionado a carreira do ator.