a Índia é a nova China? @gazetadopovo

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Após décadas em que a China foi o grande ator emergente do
planeta, a ponto de se tornar a segunda economia do mundo e rivalizar com os
Estados Unidos, o próximo grande fenômeno de crescimento na geopolítica mundial
pode ser a Índia.

Com mais de 1,4 bilhão de habitantes, o país deve
ultrapassar a China este ano como o país mais populoso do mundo, segundo
projeções. Além disso, se tornou no ano passado a quinta maior economia do
planeta.

Estimativas do Fundo Monetário Internacional (FMI) divulgadas na semana passada apontaram que o Produto Interno Bruto (PIB) indiano crescerá 5,9% em 2023 e 6,3% em 2024, mais que o dobro da variação global, que deve ser de 2,8% este ano e de 3% no ano que vem.

Esse cenário acontece ao mesmo tempo em que a China parece entrar em decadência: no ano passado, pela primeira vez desde 1961 houve queda no número de habitantes no país, e o envelhecimento da população vem diminuindo a produtividade chinesa.

Esses fatores, aliados aos efeitos dos lockdowns severos da
política Covid Zero (abolida a partir do final de 2022) e ao aumento da
interferência estatal na economia desde a chegada de Xi Jinping ao poder, há
dez anos, fizeram com que a economia da China crescesse somente 3% no ano
passado, segundo pior resultado desde 1976 – o desempenho mais fraco foi o
incremento de 2,2% de 2020, primeiro ano da pandemia de Covid-19.

No final de 2022, quando assumiu a presidência do G20, a
Índia anunciou a intenção de liderar os países em desenvolvimento. “A presidência
do G20 da Índia trabalhará para promover um senso universal de unidade. Daí o
nosso tema, ‘Uma Terra, Uma Família, Um Futuro’”, declarou o primeiro-ministro
Narendra Modi.

Estaria a Índia no caminho de se tornar um player global,
nos moldes do que a China se transformou nas últimas décadas? Não
necessariamente.

Apesar do crescimento recente, o país enfrenta dificuldades
para gerar empregos, principalmente que ofereçam bons salários, o que acaba
fazendo com que muita gente (especialmente os mais jovens) desista de procurar
trabalho.

Dados de 2021 do Banco Mundial mostraram que a taxa de
participação da força de trabalho da Índia, ou seja, o percentual de pessoas
ocupadas ou buscando emprego entre a população com mais de 15 anos de idade,
era de apenas 46%, enquanto na China e nos Estados Unidos os índices ficaram em
68% e 61%, respectivamente.

Chandrasekhar Sripada, professor da Indian School of
Business, afirmou em entrevista à CNN que a Índia “está sentada em uma
bomba-relógio”. “Haverá tensão social se não for possível criar empregos
suficientes em um período de tempo relativamente curto”, alertou Sripada, que pontuou
que o alto desemprego na Índia é resultado da educação de baixa qualidade.

O professor elogiou mudanças recentes em políticas públicas
na educação indiana, que estão colocando “ênfase razoável no desenvolvimento de
habilidades agora”, mas que tais medidas levarão anos para gerar impactos
significativos no mercado de trabalho.

Em entrevista à Gazeta do Povo, Igor Macedo de Lucena, economista, doutorando em relações internacionais na Universidade de Lisboa e membro da Chatham House – The Royal Institute of International Affairs e da Associação Portuguesa de Ciência Política, destacou que a Índia vem passando por um crescimento “robusto”, mas aquém do que a China conseguiu antes da chegada de Xi ao poder.

Apesar de provavelmente ser ultrapassada em termos
populacionais, a China deve fechar 2023 com um PIB de US$ 19,3 trilhões, muito
superior ao indiano, que deve ser de US$ 3,7 trilhões.

Lucena citou que outros fatores podem impedir a Índia de se
tornar um player global – entre eles, o próprio perfil da sua política externa.

“A Índia tem conflitos internos mais acirrados que a China,
um problema geopolítico com o Paquistão e também tem muito essa visão do Brasil
de não se intrometer na questão específica de conflitos [entre outros países].
Então, alguns pontos da Índia a tornam muito mais uma potência regional do que
de fato uma superpotência, como Estados Unidos ou China”, explicou o
especialista.

“Não há uma grande agenda indiana de um plano internacional, como a Nova Rota da Seda chinesa [programa de investimentos em infraestrutura em outros países] e iniciativas americanas. A economia da Índia é muito focada nos serviços e estes são atrelados a empresas, indústrias e bancos internacionais”, explicou o economista, que citou o grande número de produtos voltados para o mercado interno indiano, que não conseguem ir além das fronteiras do país, enquanto o foco chinês recaiu fortemente sobre as exportações.

Amizade russa

Outra questão que pode atrapalhar a Índia é que suas
relações externas questionáveis e seus problemas internos de direitos humanos
já estão sendo observados pela comunidade internacional.

Embora não apoie a Rússia na guerra contra a Ucrânia, o país
não condenou Moscou e segue mantendo laços estreitos com o país de Vladimir
Putin.

A Rússia é o maior fornecedor de armas da Índia e as
importações indianas de petróleo bruto russo cresceram desde a invasão do
Kremlin à Ucrânia, a ponto de agora representarem mais que a soma das compras
do produto vindo do Iraque e da Arábia Saudita.

Na questão de direitos humanos, a Índia é condenada internacionalmente pela violência contra as mulheres e a perseguição contra muçulmanos e cristãos: a organização Portas Abertas colocou o país em 11º lugar na sua lista mais recente da opressão a adeptos do cristianismo no mundo.

“Esses problemas diminuem as ambições da Índia de longo prazo”, apontou Lucena.

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Esta notícia pertence a: Gazeta do Povo

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