Tricô, couro e matelassê: moda inverno chega com glamour confortável

Estação recicla tendências e sofre efeitos da pandemia, dizem especialistas

BEATRIZ VILANOVA
F5-FOLHA DE SÃO PAULO
LISBOA – 

À medida que as temperaturas caem e o inverno dá as caras, as composições de vestuário vão se transformando. Embora os looks dessa temporada sejam associados ao glamour, a estação, em 2021, promete visuais mais casuais e que prezam pelo conforto.

Marcas apostam em linhas “comfy”, com mais moletom, conjuntos de malha e peças esportivas —porém, claro, sem perder o estilo. “Antes tínhamos roupas para ficar em casa e roupas para sair, mas hoje está tudo misturado”, diz a criadora de conteúdo de moda Mari Flor da Rosa, 34. “O ‘comfy’ já estava se aproximando como tendência e o isolamento acabou impulsionando.”

A consultora de imagem Ana Vaz, 48, afirma que o consumidor de hoje exige mais conforto que antes, sem prejuízo estético. “O moletom continua firme e forte, mas começamos a ver outros materiais ganharem importância, como o tricô, o matelassê (tecido em alto-relevo) e os pelos, que trazem a sensação gostosa de maciez e conforto.”

Os coletes de “tricô de vovô” e as regatas neste material podem ser combinados aos vestidos e peças de alfaiataria, diz Rosa. Já os pelos podem ser vistos tanto em casacos e coletes quanto em acabamentos, como bolsos, capuzes, mangas e detalhes de calçados. Por fim, o matelassê, que é acolchoado, aparece em casacos, bolsas e acessórios.

Essas peças podem ser associadas às mais esportivas e usadas em qualquer ocasião, da academia ao trabalho, diferentemente do que se via antigamente. “Mesmo antes da pandemia, essa tendência estava ascendendo”, diz o stylist Ernando Prado, 22, que cita algumas combinações possíveis.

“Pode-se usar um conjunto de moletom com um trench-coat por cima ou apostar em acessórios maiores, e ir para o escritório ou um almoço”, acrescenta.

De um jeito ou de outro, as peças mais confortáveis já são preferência no dia a dia dos brasileiros. É o caso da advogada Amanda Godoy, 23, que diz usar conjuntos de moletom nos dias mais frios e quando não precisa sair de casa. “Agora quero investir em uma jaqueta oversized, que são aquelas mais larguinhas, e botas no estilo coturno, que tenho visto com frequência em perfis de blogueiras e em páginas de lojas de roupas.”

A consultora de imagem Ana Vaz – Arquivo Pessoal

As peças oversized, assim como os coturnos, são outra aposta deste inverno, especialmente combinadas com as peças mais justas ou com alguma transparência em tule, como em vestidos de camadas e blusas de gola alta que deixam tops à mostra.

Também ressurgem com força peças em couro, não só em jaquetas, mas em calças, saias e vestidos, inclusive no comprimento midi —outra tendência prática e confortável da estação. O material, segundo os especialistas, chega em modelagens “mais soltinhas” e coloridas —em azul, lilás e laranja, por exemplo—, caindo no gosto das fashionistas e do público, em geral.

É um dos materiais favoritos da especialista em atendimento ao cliente Cida Fernandes, 70, por exemplo. “No frio, amo usar jaquetas de couro e lã, ou corta-vento. Combino elas com botas e legging, calças jeans ou calças de veludo. E, no pescoço, costumo usar lenços e echarpes, além de golas que eu faço de tricô.”

“Gosto de usar roupas com as quais eu me sinta bem, então eu mesma crio minhas combinações. Acho que, no frio, ficamos mais elegantes”, acrescenta Fernandes.

Muito frequentes nos invernos, as golas completam os looks dos dias mais frios de 2021. Elas reaparecem em tricô e lenços de tamanhos variados e, segundo Vaz, são uma alternativa fácil para ficar elegante de forma rápida em uma reunião online, por exemplo. Além delas, a profissional afirma que poderá ser visto entre os acessórios bolsas pequenas, no estilo “baguete” dos anos 1990.

Cida Fernandes, 70 – Karime Xavier-25.mai.2021/Folhapress

Seguindo a moda de décadas passadas, as bijuterias aparecem de duas formas: muito douradas, no estilo “decorativismo”; ou em miçangas e massinhas de estética mais divertida e colorida, que remetem à infância, diz Prado. No caso das miçangas, elas ainda servem para cordões de óculos e até de máscaras.

“Recicla-se muitas peças de outras estações, então muitas tendências se repetem. Isso também acontece pela ascensão dos brechós: as pessoas procuram garimpar mais”, afirma Prado. “O mercado de usados tem crescido muito, e há o consumidor jovem que não quer comprar de marcas grandes”, concorda Vaz.

“Além disso, por causa da pandemia, há escassez de matéria-prima e da mão de obra, e não temos tantas peças à disposição”, completa Vaz.

A Covid-19 não só alterou a forma como consumimos, mas também como são produzidas as roupas. Rosa diz que marcas estão apostando muito mais no upcycling, técnica que propõe o reaproveitamento de peças e tecidos antigos ou já usados para criar novos looks, ao observar a queda das vendas.

Isso ainda culminou em uma maior quantidade de peças de patchwork, com costura de diferentes pedaços de tecidos; e em bolsos nas mangas e peitos de camisetas, um item associado ao utilitarismo e ao conforto.

PADRONAGEM E CORES

Muito inspiradas na moda do hemisfério norte, as estampas de padronagem também aparecem com força. O xadrez “pied de poule” e “príncipe de Gales”, por exemplo, têm aparecido nos últimos invernos e continuarão neste, assim como o floral, diz Ernando Prado.

“As estampas dividem espaço com as peças lisas”, complementa Ana Vaz. “Além das clássicas, voltam as estampas de onça e estampas mais artísticas, brincando com elementos de tinta, por exemplo. E haverá muitas estampas localizadas em camiseta e moletom”.

No campo das cores, volta o “colorblock”, caracterizado pelo contraste de cores fortes e vibrantes, como o roxo, amarelo e laranja. Além dele, permanecem os tons pastéis, o verde oliva e os tons terrosos, além do trio tradicional branco, preto e cinza.

“Tons terrosos e neutros são boas apostas comerciais, especialmente em momentos de crise”, explica Vaz. “Estamos saindo de um período muito isolado, e o estilo sofisticado virá forte nessas estampas mais chiques”, diz Mari Flor da Rosa.

Prado complementa: “Depois da pandemia, todo mundo vai querer exagerar para descarregar essa vontade de festa e glamour que deixamos de lado durante os últimos meses.”

MODA NOS PÉS

Quando o assunto é calçado, tênis de esporte e botas de cano curto e alto devem dominar o cenário de 2021. Os sneakers aparecem repaginados, em cores vibrantes e até com estampas. A grande variedade de modelos abrange ainda solados e canos mais altos, para criar composições fashion.

Sapatos com plataforma e sola tratorada ganham a cena, como já demonstrava a onda das botas no estilo coturno —segundo Prado, um clássico que já entrou para as macrotendências e que deve permanecer, como aconteceu com os tênis Converse All Star.

Outras botas que ganham destaque são as de tecido maleável, que se acomodam à pele como meias, especialmente as de cano mais alto. “Minha peça preferida da estação é uma bota de cano alto, que eu uso todo inverno porque esquenta bastante as pernas e permite que eu use, por exemplo, uma saia em dias mais frios”, exemplifica Amanda Godoy.

E como a moda continua até dentro de casa, Vaz diz que se tornam comuns os chinelos com tiras horizontais e pelinhos, que podem ser usados com meias durante toda essa temporada.

 

 

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