Melissa Duarte e Paula Ferreira
O GLOBO
BRASÍLIA — Jogadores e comissões técnicas farão testes RT-PCR a cada 48 horas para conter a disseminação da Covid-19 durante a Copa América. Os protocolos sanitários, divulgados nesta segunda-feira, incluem quartos isolados, ônibus individuais e higienizados a cada uso, voos fretados e controle na saída de hotéis serão adotados. Exames, assim como possíveis atendimentos e internações, serão cobertos pelo seguro-saúde dos atletas e não utilizarão recursos do Sistema Único de Saúde (SUS). Não há torcida nos estádios.

Apesar de alertas, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, argumenta que competições esportivas ocorrem desde o ano passado sem a obrigatoriedade de imunização. Essa é uma das razões pelas quais avalia que o torneio não agregará riscos às condições sanitárias no Brasil.

— Se exigisse a vacinação ou vacinasse os atletas neste momento, eles não teriam imunidade até o início da competição. Então como essas competições têm acontecido sem a exigência da vacinação, até porque no ano passado não existia vacina e o campeonato aconteceu sem maiores problemas, então não é uma imposição. Os que estiverem vacinados, melhor. Mas não se fará um esforço para vacinar esses atletas agora até porque a vacina poderia causar algum tipo de reação — disse o cardiologista.

Presidente do Comitê Médico da Conmebol, Osvaldo Pangrazio afirmou que tem uma equipe de médicos para implementar o protocolo de proteção contra Covid-19. Segundo ele, esses profissionais serão encarregados de “todos os controles pertinentes da bolha sanitária”. Pangrazio chama de “bolha sanitária” um protocolo que tem sido usado nas competições promovidas pela Conmebol, com a restrição de contato das delegações com pessoas externas à competição, rotinas de testes, entre outros pontos.

— A Conmebol tem um protocolo médico-sanitário Covid, com PCR a cada 48 antes do início da partida — explicou Pangrazio. — (Gostaria de) manifestar, senhor ministro, que estamos realizanado essa experiência de trabalho há mais de um ano nos torneios que você mencionou. E (gostaria de) te dizer que todo protocolo da bolha sanitária é cumprido estritamente com as dez delegações e parte da equipe da Conmebol.

Ele afirmou, ainda, que 29% do staff da Conmebol já receberam dose de vacina e que “muitos dos países também têm uma alta porcentagem de jogadores vacinados”.

— Estamos trabalhando na parte sanitária com a ajuda de vocês para fazer uma grande Copa América dentro do ponto de vista sanitário.

Diantes dos riscos, a realização da Copa América no Brasil, com apoio do governo federal, tem provocado críticas. De um lado, a pandemia se alastra ainda mais pelo país, com o prenúncio da terceira onda e a chegada das variantes delta, descoberta na Índia, e beta, oriunda da África do Sul.

— As pessoas podem ir ao restaurante torcer? Podem, mas elas têm que ir de acordo com a regra sanitária de cada local. Pode torcer em casa, mas, se vai fazer festa… a consciência é de cada um. Nós não recomendamos isso. Não é essa Copa América que vai fazer isso aumentar ou diminuir. É porque hoje a gente está dentro de um contexto de politização extrema. Eu não digo que seja desarrazoado, porque a gente vive num ambiente sanitário muito peculiar — disse Queiroga.

Por outro lado, pesa a acusação de assédio sexual e moral contra o agora afastado presidente da CBF, Rogério Caboclo. Um dos principais articuladores para a vinda da competição ao país, no entanto, não deve voltar ao cargo, como revelou a coluna de Lauro Jardim. Conhecido como Coronel Nunes, o vice-presidente mais velho, Antônio Carlos Nunes, assumiu o cargo interinamente, por 30 dias.

Jogadores da Seleção ameaçaram boicotar o torneio, o que seria uma decisão de peso histórico. O cartola chegou a ventilar a possibilidade de substituir o atual técnico, Tite, por Renato Gaúcho. Depois de Caboclo — um dos pontos de insatisfação do grupo — sair do comando da entidade, os atletas decidiram participar da disputa.

A competição começa no próximo domingo e vai até 10 julho, em quatro cidades-sede, concentradas na Região Centro-Oeste: Brasília, Cuiabá, Goiânia e Rio de Janeiro. Ao todo, serão 28 jogos, dez seleções e 650 pessoas envolvidas, entre jogadores e comissões técnicas, no torneio.