O GLOBO – Luciano Huck afirmou em entrevista a Pedro Bial na terça-feira que vai “contribuir muito para o país estando nos domingos da Globo e fazendo um programa que se conecte com as pessoas, que ouça as pessoas, que traga a esperança de volta e resgate nossa autoestima”. Ele acredita em cada palavra do que disse. Desde que lançou seu “Caldeirão”, em 1999, o apresentador foi desenhando um desvio de rota que, nos anos mais recentes, desembocou em quadros de muito sucesso que tencionavam exatamente isso, “conexão com as pessoas e esperança”. Se o “Lar doce lar” ou o “Lata velha” são contribuições para o país ou apenas puro assistencialismo, o leitor pode julgar. O fato é que ele deixou para trás outras criações suas muito populares, mas mais desprovidas de mensagens altruístas, como a Tiazinha (Suzana Alves) e a Feiticeira (Joana Prado) do “Programa H”, com que ficou conhecido nacionalmente.

De lá para cá, Huck ganhou segurança e virou um apresentador de primeira, capaz de dominar a plateia. Ele experimentou muito e nunca se esqueceu da chave da renovação. Trouxe o “Soletrando”, o que adicionou um certo capital educativo ao seu “Caldeirão”. É incansável e tenaz. Adora o Brasil e viajou do Oiapoque ao Chuí gravando, o que não significou nunca uma limitação. Ele também é amigo de estrelas internacionais, que convidou para o seu palco. É um mestre na mistura do mais popular ao que é só pop, mas com alguma sofisticação.

Luciano Huck durante entrevista com Pedro Bial Foto: Foto Tv GloboLuciano Huck durante entrevista com Pedro Bial Foto: Foto Tv Globo

Por tudo isso, Huck está pronto para assumir um desafio ainda maior: as tardes de domingo da Globo, uma fonte de receita importantíssima para a emissora e um canhão de audiência. É um posto cheio de dificuldades. Primeiro, como diz Fausto Silva, o titular até dezembro: “porque quem sabe faz ao vivo”. A capacidade de improvisar é só um dos degraus a serem vencidos. São horas comandando uma produção que envolve uma multidão de profissionais. Mas Huck hoje conquistou uma musculatura de gente grande.

Com frequência, a saída de Fausto Silva da Globo é mencionada com o aposto “o fim de uma era”. Ele ocupa aquele espaço desde 1989. O apresentador veio do “Perdidos na noite”, da Band. Era uma atração do underground, das madrugadas, que encantava com seu caráter tosco e debochado. Era muita iconoclastia. Faustão pulou disso para o mais puro mainstream. Conseguiu fazer essa passagem sem perder o charme e conservou uma certa estridência dos primórdios — estridência metafórica, porque a voz poderosa é de locutor de rádio profissional.

A marca pessoal ficou intocada. Uma queixa frequente de setores do público é a de que ele “fala demais e não deixa o entrevistado se manifestar”. Verdade. Mas verdade também que quem faz ao vivo sabe que muitas vezes é preciso fazer isso para compensar o laconismo de certos convidados mais tímidos. Não à toa, o termo “animador de auditório” se aplica a figuras como ele. Ao longo desses anos, lançou quadros de sucesso, como a “Dança dos famosos”. O “Se vira nos 30” entrou para o dicionário da língua portuguesa como sinônimo da capacidade de alguém de produzir algo com poucos recursos. São só dois exemplos de criações importantes.

Certos elementos do tradicional programa de auditório, entretanto, envelheceram mal. As bailarinas exibindo o corpo de forma provocante — uma herança das Chacretes e afins — são um exemplo disso. Com o feminismo na pauta contemporânea, aquilo é um suco de anacronismo. As “videocassetadas” — rir da desgraça alheia — também parecem empoeiradas. Hoje se fala muito em bullying. Não combina com 2021.

O que esperar dessa passagem de bastão? Quando Huck fala em “contribuir para o Brasil”, pode estar pensando na função social da televisão para além do puro entretenimento. Que ele saiba dosar diversão e convide à reflexão. Ligado em redes sociais, tem tudo para saber ampliar o alcance do seu recado, navegando em todas as plataformas. Pode acertar o público jovem, que se afastou da TV aberta.

Fausto Silva

Fausto Silva Foto: Victor Pollak / Agência O GloboFausto Silva Foto: Victor Pollak / Agência O Globo

Depois de 32 anos na TV Globo, Fausto Silva se despede da casa no fim de 2021 e volta à Band, de onde saiu em 1989. No último domingo, pela primeira vez, o “Domingão” foi comandado por outro apresentador (no caso, Tiago Leifert) porque Faustão estava internado com infecção urinária. Na manhã de ontem, sua mulher, Luciana Cardoso, postou uma foto informando que ele teve alta e está pronto para voltar ao ar.

Gugu Liberato

Morto em 2019, ficou de 1993 a 2009 no “Domingo legal”, do SBT. Um dos quadros mais famosos (e politicamente incorretos) era a Banheira do Gugu. De 2009 a 2013, comandou um dominical na Record.

Silvio Santos

O Dono do Baú está na TV aos domingos desde 1963. O “Programa Silvio Santos” estreou na Paulista, depois na Globo e na Tupi, até ir para o SBT. No canal, esteve em várias atrações no mesmo dia.

Chacrinha

Ícone com seus bordões e indumentária, Abelardo Barbosa teve diversos programas, mas, aos domingos, entrava no ar com a “Buzina do Chacrinha”, atração da Globo entre 1967 e 1972.

Flávio Cavalcanti

O polêmico apresentador esteve à frente do “Programa Flávio Cavalcanti” nos anos 1970 na Tupi. Nos primeiros anos, rivalizou com Chacrinha e Silvio Santos pela audiência.