Neymar deve aprender com Mbappé como lidar com as críticas
Luís Curro
Neymar é um dos melhores jogadores brasileiros em atividade, isso já faz mais de uma década.
Um dos melhores, não. O melhor.
É o futebolista do país mais conhecido e mais badalado, dono da camisa 10 da seleção brasileira e do Paris Saint-Germain, um dos mais fortes clubes do planeta.
Veloz, habilidoso, inteligente, criativo, artilheiro. Em forma, é quase impossível anulá-lo.
Brilhou no Santos (vencendo a Libertadores), brilhou no Barcelona (vencendo a Champions League como coartilheiro e o Mundial de Clubes). Ainda busca o brilho máximo no PSG (falta a Champions e, caso ela venha, o Mundial) e na seleção (é ouro olímpico, mas faltam Copa América e Copa do Mundo).
Um dos grandes problemas de Neymar, além da fama de cai-cai (justificada, porém também apanha bastante) e de perder a calma em algumas partidas (o que lhe rende cartões), é não lidar bem com as críticas a ele direcionadas pela mídia.
Claramente “Ney” se incomoda quando o noticiário não é favorável.
Na semana passada, depois de publicações darem conta de que ele estaria acima do peso, Neymar irritou-se a ponto de, em entrevista à Globo depois da vitória sobre o Peru nas Eliminatórias, desabafar, em um misto de irritação e inconformismo.
“Não sei mais o que eu faço com esta camisa [da seleção] para a galera respeitar o Neymar. Isso é de vocês, repórteres, comentaristas, e outros também. Às vezes eu nem gosto mais de falar em entrevistas.”
Questionado a respeito do que causava incômodo, foi evasivo e afirmou: “Deixo para a galera pensar um pouco aí”.
O que Neymar não entende é que o jogador de futebol (e qualquer pessoa que exerça atividade vista por milhares de pessoas) está sujeito, sempre, a elogios ou críticas, seja dos meios de comunicação, seja dos espectadores. Faz parte, é algo indissociável da profissão que ele exerce.
Eu mesmo já o elogiei, ao redigir os textos “Recuperado, Neymar troca a firula pela objetividade”, “Onde CR7 e Messi travam e Neymar é melhor que eles” e “Agora meia-atacante, Neymar começa temporada com dez gols em dez jogos”, e o critiquei, como em “Neymar e o sangue de barata”, “Há futebol além de Neymar” e “Neymar ruma para cinco anos sem momento de glória no futebol”.
Conforme citou com propriedade no fim de semana, na rádio Transamérica, o apresentador e comentarista José Calil, para calar os críticos o jogador deve responder em campo; caso jogue bem, faça gols e/ou dê assistências, ninguém vai se importar se está “gordo”.
Como Neymar, mesmo tendo quase 30 anos, insiste em não compreender essa realidade, talvez um colega seu de clube, mais jovem, possa lhe ensinar.
Kylian Mbappé, francês de 22 anos, já campeão de Copa do Mundo, exemplo em combinar ambição e humildade, abordou o assunto no documentário “The Players” (Os Jogadores), da Uefa, a entidade que comanda o futebol na Europa.
“Os jogadores-chave estão sempre gerando grandes expectativas, e eu nunca me esquivei disso. Claro que, quando as coisas não dão certo, você tem que encarar as críticas. Sabendo que faz parte do trabalho, você não leva para o lado pessoal.”
Mbappé ficou na berlinda na Eurocopa deste ano. No dia 28 de junho, em Bucareste, perdeu o pênalti decisivo na disputa com a Suíça, e a França, uma das favoritas, caiu precocemente, nas oitavas de final.
E antes que alguém viesse a escrever ou falar algo negativo, ele se antecipou em rede social, logo depois da eliminação, fazendo uma autocrítica.
“Muito difícil virar a página. A tristeza é imensa após essa eliminação, não conseguimos atingir nosso objetivo. Sinto muito por esse pênalti. Queria ajudar a equipe, mas não consegui. Será difícil dormir, mas são os perigos desse esporte que eu tanto amo.”
Eis como se pode, até se deve, fazer.
Em vez de reclamar ou choramingar quando há um momento ruim, quando a fase não ajuda, quando uma atuação é aquém do esperado ou quando um erro determina o fracasso, o atleta ponderado aceita, levanta a cabeça e segue.
Fica a dica para Neymar.