Só no primeiro semestre deste ano, a equipe paulista disputou 54 jogos em dez competições diferentes, contando com as edições dos campeonatos de 2020 e 2021. O time do Palmeiras entrou em campo, na média, a cada 3,3 dias. Apenas neste período, o técnico Abel Ferreira teve de utilizar mais de 40 jogadores do elenco, contando com atletas da base.
Maratona do futebol: Palmeiras, Grêmio e Flamengo foram os times que mais jogaram na temporada dupla em 18 meses
Palmeiras, Grêmio e Flamengo foram os times que mais jogaram nas duas temporadas disputadas em 18 meses Foto: Editoria de Arte
Aos poucos, o desgaste foi ficando evidente. Das quatro principais competições do ano, perdeu o Paulista na final para o São Paulo, ficou no meio do caminho da Copa do Brasil, não teve fôlego para disputar o título do Brasileiro até o fim e guardou todas as energias na final da Libertadores contra o Flamengo, conquistando o bi consecutivo.
No ano todo, os paulistas entraram em campo 91 vezes. Único time a ultrapassar a marca de 90 jogos em 12 meses. Além da presença em finais, o número foi inflado pelo Mundial de Clubes, com dois jogos.
O excesso de jogos se reflete na qualidade das competições. Os times que disputam os títulos, dificilmente, conseguem manter uma regularidade no nível técnico até o fim. Muitos abrem mão de um ou outro torneio e apostam no rodízio de jogadores. Os atletas sequer têm o período adequado de recuperação a cada partida, e mal sobra tempo de realizar treinos táticos e técnicos em campo. Tanto o trabalho do técnico quando o de prevenção de lesões é prejudicado pela sequência de partidas e viagens pelo país e exterior.
– É muito importante pensar que, mesmo tirando esse cenário de pandemia, nunca o futebol brasileiro trabalhou num cenário ideal, levando-se em conta a sobrecarga e o tempo de recuperação ideal. O calendário regular já apresenta alta frequência de jogos e um alto nível competitivo. O futebol em si tem uma alta demanda competitiva no mundo pela questão econômica. Agora, tivemos dois anos em 18 meses e na pior conjuntura possível. Os jogadores estavam em período de destreino por causa da paralisação dos campeonatos. Todos os clubes tentaram manter a forma física de seus atletas de alguma forma, alguns investiram mais. Porém, todos eles não tiveram o contato com o jogo, com o campo, treino com os companheiros. Os times com melhor investimento, que têm um trabalho melhor de preparação e ciência do esporte conseguiram lidar melhor com a temporada. Viu-se o melhor rendimento daqueles com menor baixas médicas – explica o fisiologista Gabriel Espinosa, do Laboratório de Performance Humana da Casa de Saúde São José.
Logo depois do Palmeiras, o Grêmio foi o time que mais atuou na maratona futebolística. Em 133 jogos, a equipe foi de classificado à Libertadores ainda em 2020, passando pela final da Copa do Brasil, no começo do ano, até o rebaixamento neste mês.
No levantamento, foram considerados os times que participaram da Libertadores de 2020 e/ou de 2021. Dos 10 clubes que se encaixam nesse perfil, todos fizeram mais de 100 partidas nos 18 meses. Caso do Flamengo, o terceiro da lista com 129 jogos (87 só neste ano) e uma média de um jogo a cada 4,2 dias.
Férias e pré-temporada
O rubro-negro chegou ao fim do ano disputando as duas principais competições da temporada: o Brasileiro e a Libertadores. As lesões, que tiraram jogadores importantes de parte da reta final, também foram determinantes para os resultados aquém do esperado: dois vice-campeonatos.
– Não há um único fator que causa a lesão, é um processo multifatorial. Mas o calendário, da maneira que temos, é um deles, pois há um menor tempo de recuperação. E também temos que adotar algumas estratégias para que consigamos minimizar esses riscos em tão pouco tempo. Isso aumento sim os riscos das lesões – diz Lucas Albuquerque, ex-fisiologista do Flamengo e atual coordenador científico do Vilafranquense, de Portugal.
Não há um número ideal, de acordo com a ciência, de jogos por temporada no futebol de alto nível. Há atletas que suportam mais ou menos o mesmo número de carga de treino e de jogos. Porém, um calendário com menos partidas decisivas em sequência seria a meta para que os jogadores pudessem atuar em seu máximo nível físico e técnico sem grande desgaste. Mas dificilmente isso se tornará realidade no Brasil e até no mundo, à medida que mais torneios vão sendo criados.