Flamengo e Palmeiras entram em campo hoje pela última vez no Brasileiro antes de se enfrentarem na final da Libertadores, no próximo sábado. Ao longo das últimas semanas, o maior objetivo das duas equipes foi chegar ao dia 27 com todo o grupo à disposição. E ambos terão êxito a partir de estratégias distintas, que têm relação com o manejo de seus elencos para uma temporada que prevê 90 jogos em meio à pandemia.

No caso do Flamengo, que encara o Grêmio às 21h em Porto Alegre, os atletas que mais demoraram a se recuperar de lesão, Arrascaeta e Pedro, recebem os últimos cuidados. O uruguaio deve ganhar mais minutos após voltar contra o Internacional, e o centroavante tem chance de ser experimentado pela primeira vez após uma artroscopia no joelho realizada há um mês.

A última vez que o técnico Renato Gaúcho conseguiu utilizar seu 11 ideal foi na semifinal da Libertadores, há quase dois meses, quando venceu o Barcelona no Equador. De lá para cá, lançou mão de equipes alternativas com desempenho aquém da formação ideal. O Flamengo oscilou, não sustentou a caça ao líder no Brasileiro, mas já vem de oito jogos sem perder.

Do lado do Palmeiras, que enfrenta o Atlético-MG às 21h30, o técnico Abel Ferreira usou o jogo do Fortaleza como teste para emular o Flamengo e lançou força máxima, mas hoje deve preservar titulares de novo. A preocupação cresceu com a proximidade da final. Com um elenco considerado bastante homogêneo, o português dosou o time no clássico com o São Paulo na semana passada, quando perdeu a primeira das três partidas seguidas. Antes, contra o Fluminense, interrompeu sequência de sete jogos invictos ainda colocando em campo o que tinha de melhor.

O tratamento cauteloso da comissão técnica é dado a Felipe Melo e Breno Lopes. O volante de 38 anos tem feito um trabalho individualizado e foi preservado das últimas partidas para voltar 100% contra o Flamengo. Já o atacante, autor do gol do título de 2020, se recupera de dores no tornozelo. Com intervalo pequeno entre as últimas partidas e viagem para Fortaleza, Abel tirou o pé para ter todos os jogadores inteiros. O lateral Mayke passou por uma artroscopia no joelho no fim de setembro, programada para que se recuperasse a tempo da Libertadores. Contra o Fortaleza, voltou a jogar 90 minutos e está pronto. O mesmo ocorrerá com o lateral Jorge, reforço que se somou a Piqueréz para suprir a venda de Viña, e voltou a jogar após sofrer lesão muscular.

Palmeiras corre riscos

Além dos jovens Piquerez e Jorge, o Palmeiras trouxe em 2021 Danilo Barbosa, Matheus Fernandes e repatriou Dudu e Deyverson. Não houve investimentos no meio do ano. Com mais chegadas do que saídas (Lucas Lima foi para o Fortaleza, Alan Empereur não teve empréstimo renovado e Emerson Santos foi vendido pro futebol japonês), a diretoria encorpou o elenco campeão da Libertadores, e aprimorou os processos da comissão técnica.

A sintonia entre funcionários do clube e Abel Ferreira aumentou. Com uma filosofia sem tanto enfoque na prevenção, o Palmeiras apostou em um elenco nivelado para correr mais riscos na temporada e “manipular” melhor o calendário. O começo do ano foi de muitas lesões, e o clube optou por utilizar dois grupos distintos no Campeonato Paulista, revezando recesso. Em seguida, o controle de carga foi aprimorado para buscar os títulos mais importantes com foco jogo a jogo.

Como a metodologia do clube respeita a homogeneidade da equipe, o técnico tem confiança em escalar de acordo com as características do atleta e as necessidades do jogo. Não fica refém de um time ideal. E roda bastante o grupo, incluindo aí os jovens formados no clube. No mata-mata da Libertadores, todos os atletas ficaram à disposição, como agora.

É comum também o Palmeiras mandar a campo o jogador considerado reserva e deixar o titular no banco para ser acionado. O atleta só sai da relação da partida se tiver incapacitado, não com limitações. Não há tanta preocupação com estatísticas de lesão por se acreditar que o plantel dá conta. Apenas nos últimos dias.

Flamengo minimiza danos

No Flamengo, que tem sofrido muito mais com as lesões agora do que no começo da temporada, a lógica é um pouco diferente. Muitas vezes jogadores sem condições de jogo são deixados de fora com a explicação de que serão preservados. Quando na verdade não teriam, de fato, como desempenhar seu máximo nem por alguns minutos. O próprio Renato Gaúcho já indicou que correu riscos e tentou minimizar os danos ao tirar os principais atletas em certas ocasiões. No limite físico e com um time titular mais qualificado, o técnico teve dificuldades quando lançou mão de seu elenco e foi muito cobrado.

Ainda que tenha conseguido recuperar Michael e Vitinho, a equipe caiu de produção. A janela de meio do ano trouxe David Luiz, Kenedy e Andreas Pereira, mas apenas o meia ex-Manchester United teve sequência e deu retorno esperado para suprir a venda de Gerson.

Quando o Brasileiro ficou mais distante, e as lesões acumularam, as cobranças foram direcionadas ao departamento médico, e entrou em cena um trabalho mais minucioso de controle de carga. O Departamento de Saúde e Alto Rendimento (Desar) focou em deixar o grupo o mais homogêneo possível em níveis de força e recuperação e, para isso, deu maior atenção às necessidades de cada atleta. David Luiz foi quem fez a recuperação mais equilibrada.

Nela, o clube possui uma rotina pré-treino, em que os jogadores cumprem programas individualizados baseados em avaliações e necessidades diagnosticadas ao longo da temporada.

O setor trabalha em conjunto com Renato Gaucho, que concede liberdade para os profissionais realizarem as intervenções que forem necessárias na área de performance. Os relatórios são repassados ao técnico, que fica ciente de quais atletas precisam melhorar em determinado aspecto ou apenas fazer uma recuperação muscular.

Assim foi feito com o zagueiro Rodrigo Caio o ano todo, e também com outros titulares que surgiram com lesões reincidentes, como Bruno Henrique. No fim das contas, todos estão aptos.