“Flor do Cafezal” obra-prima sertaneja de um compositor de MPB

A beleza dos cafezais paranaenses floridos viria a se tornar uma das mais belas manifestações poéticas da história da música sertaneja brasileira já na segunda metade do século XX.

Na década de 1960, o compositor paranaense de Ribeirão Claro, então com trinta e poucos anos, Luiz Carlos Paraná, compôs uma das mais belas músicas do cancioneiro sertanejo. Fato curioso é que Paraná se notabilizou como compositor escrevendo música popular brasileira e não música sertaneja de raiz. É dele, por exemplo, a canção “Maria, carnaval e cinzas”, defendida por Roberto Carlos no III Festival de Música Popular Brasileira (FMPB) da TV Record de São Paulo, em 1967, ficando em quinto lugar; e “De amor e paz” (em parceria com Adauto Santos), interpretada por Elza Soares no II FMPB, em 1966, obtendo o segundo lugar.

Sobre Luiz Carlos Paraná, Rangel Alves da Costa, afirma que, sem tirar o mérito das outras canções do lavrador, autodidata e peregrino pelo Sul do país, e que se tornaria compositor e cantor, indiscutivelmente que a música “Flor do Cafezal”, ou “Cafezal em Flor”, como tantos insistem em nomear, é um verdadeiro hino onde se junta numa só canção a inspiração sertaneja, a beleza da paisagem campestre, e o cultivo como exemplificação do amor que, igual à flor do cafezal, nasce lindo e majestoso e depois é consumido pelo tempo.

De acordo com o comentário de Rangel Alves da Costa, é principalmente marcante a passagem onde ele cita que morre a flor e nasce o fruto, já não tão belo quanto a brancura da flor, se esvaindo pela vida com o tempo, como ocorre com o amor. Igual à flor do cafezal, o amor tem seu instante de majestade e de perecimento. Eis que o fruto de tudo pode ser a dor.

Em 1967, a dupla sertaneja Cascatinha e Inhana gravou no LP “Vinte e cinco anos de amor”, a belíssima “Flor do Cafezal”. Nas vozes inconfundíveis do casal – ela com uma voz suavemente mais aguda e ele fazendo a segunda voz -, a canção alcança status de hino, não pela plangência e suavidade, mas principalmente pela comovente e reflexiva letra e pela melodia magistral por onde esvoaçam as flores, os amores e as desesperanças.

Eis os versos compostos por Luiz Carlos Paraná:

Flor do Cafezal (Cafezal em Flor)

Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

Ai menina, meu amor

Minha flor do cafezal

Ai menina, meu amor,

Branca flor do cafezal

 

Era florada lindo véu de branca renda

Se estendeu sobre a fazenda

Qual um manto nupcial

E de mãos dadas fomos juntos pela estrada

Toda branca e perfumada

Pela flor do cafezal

 

Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

Ai menina, meu amor

Minha flor do cafezal

Ai menina, meu amor,

Branca flor do cafezal

 

Passa-se a noite, vem um sol ardente e bruto

Morre a flor e nasce um fruto

No lugar de cada flor

Passa-se o tempo em que a vida é toda encanto

Morre o amor e nasce o pranto

Fruto amargo de uma dor

 

Meu cafezal em flor, quanta flor meu cafezal

Ai menina, meu amor

Minha flor do cafezal

Ai menina, meu amor,

Branca flor do cafezal.

 

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