Bolsonaro confirma realização de Copa América e anuncia jogos em três estados e DF
Presidente havia dito que partidas aconteceriam em 5 sedes, mas Casa Civil informou 4
DANIEL CARVALHO
NATÁLIA CANCIAN
RICARDO DELLA COLETTA
BRASÍLIA – O presidente Jair Bolsonaro confirmou na tarde desta terça-feira (1º) que o Brasil sediará a Copa América 2021.
De acordo com o ministro da Casa Civil, general Luiz Eduardo Ramos, os jogos serão realizados no Rio de Janeiro, em Mato Grosso, em Goiás e no Distrito Federal.
No evento de assinatura do contrato de transferência de tecnologia da vacina para Covid-19 entre a AstraZeneca e o governo federal, Bolsonaro havia anunciado Mato Grosso do Sul em vez de Mato Grosso. Também havia dito que um quinto estado, que “chegou um pouco atrasado”, seria sede.
“Os cientistas apontaram que, neste momento, a realização do torneio representaria uma má sinalização de arrefecimento no controle da transmissão do coronavírus, prioridade absoluta do governo do estado”, informou nota do governo paulista.
Governadores de outros estados já haviam anunciado que não aceitariam receber jogos por causa da pandemia.
O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, disse que a pasta fará um protocolo de segurança para a realização do evento. Isso deverá ser realizado em conjunto com os estados que receberão os jogos.
“Incumbe aos ministros e, no caso particular, à Saúde, elaborar protocolos seguros para garantir que esse campeonato possa acontecer aqui no Brasil dentro das condições sanitárias rigorosamente validadas”, disse. Ele não informou quais seriam essas condições.
“Confirmada a Copa América no Brasil. Venceu a coerência! O Brasil que sedia jogos da Libertadores, da Sul-Americana, sem falar nos campeonatos estaduais e no Brasileiro, não poderia virar as costas para um campeonato tradicional como este. As partidas serão em MT, RJ, DF e GO, sem público”, escreveu em uma rede social o ministro da Casa Civil.
Procurada pela Folha, a assessoria de imprensa do governador Ibaneis Rocha (MDB-DF) informou no fim da tarde que não havia sido feito nenhum convite formal.
No início da noite, a apoiadores, Bolsonaro informou que a abertura da Copa América ocorrerá em Brasília, no domingo (13).
Novamente questionada, a assessoria de Ibaneis não respondeu.
Procurada pela Folha, a Prefeitura do Rio de Janeiro afirmou que as regras de distanciamento social em vigor na cidade permitem a realização de eventos esportivos, mas sem a presença de público.
“Mesmo não tendo havido consulta por parte da Conmebol, fica mantido o mesmo regramento que vem sendo adotado para as competições esportivas na cidade”, disse a Secretaria Municipal de Saúde, em nota.
Já a Secretaria Estadual de Saúde deu resposta parecida. “O campeonato deverá seguir os mesmos protocolos sanitários das competições que já vêm acontecendo no estado.”
A Folha soube com pessoas da CBF que há um entendimento para que a final seja disputada no Maracanã.
O governo de Mato Grosso disse que “ainda não foi informado oficialmente sobre jogos da Copa América no estado”. Nesta terça-feira (1º), porém, o governador interino, Max Russi (PSB), visitou a Arena Pantanal e disse que sediar jogos da competição sul-americana seria uma “decisão acertada”.
O governador Mauro Mendes (DEM) e seu vice, Otaviano Pivetta, foram para a Bolívia assinar novo contrato para fornecimento de gás natural ao estado.
Em Goiás, o governador Ronaldo Caiado (DEM) disse na noite desta terça, por meio de suas redes sociais, que foi consultado sobre a disponibilidade para receber jogos da Copa América e que, após conversa com a equipe técnica, determinou condições para que Goiânia abrigasse jogos.
Entre elas estariam a ausência de público, a vacinação das delegações e profissionais de imprensa e um sistema “estilo bolha”, sem especificar como isso seria possível.
“Além disso, não aceitamos gastar um centavo com a competição. Qualquer investimento de infraestrutura será por conta deles [Conmebol]. Inicialmente, os jogos serão no Estádio Olímpico, sem público. E o Serra Dourada vai servir de suporte”, disse Caiado. Ele afirmou que as condições foram aceitas.
O governador disse ainda que a Copa América não pode ser politizada. “Porque estamos tendo Campeonato Brasileiro, Sul-Americana, Libertadores e Eliminatórias. Tivemos estaduais. Qual a diferença se protocolos até mais rígidos de segurança serão tomados? É preciso pensar na saúde e ter coerência.”
Bolsonaro afirmou ter sido procurado pela CBF (Confederação Brasileira de Futebol) na segunda-feira (31) e, como o país está sediando outras competições “sem problema nenhum”, ouviu ministros e não se opôs a receber o torneio, dando uma resposta “em poucas horas”, como explicou em discurso.
O presidente da República citou a realização dos jogos da Copa Libertadores e das Eliminatórias da Copa do Mundo.
“Então, decidimos que, no que dependesse do governo federal, seguindo os mesmos protocolos, nós estávamos em condições de realizar a Copa América aqui no Brasil”, afirmou Bolsonaro.
Auxiliares do presidente passaram o dia sustentando o discurso feito na segunda-feira pelo ministro da Casa Civil. Ramos havia dito que a organização da competição não cabia ao governo.
No fim da tarde, Bolsonaro afirmou que Ramos participou da escolha das sedes.
“Faltava agora então, via não só CBF, bem como com a colaboração da Casa Civil, escolhermos as sedes em comum acordo, obviamente, com os governadores”, disse Bolsonaro, antes de anunciar cidades e estados.
Ao retornar ao Palácio da Alvorada, Bolsonaro comemorou com apoiadores a decisão de realizar o campeonato no país, apesar do número de mortes provocadas pela Covid-19.
“Mas ganhamos mais uma. No que depender do governo federal e de quatro governadores que se voluntariaram, haverá Copa América. E quem não quiser assistir, que não assista, desligue a televisão e vá lá conversar com a namorada, com a sogra, com o sogro, com o namorado”, afirmou.
“É simples”, disse Bolsonaro. “Nós aqui, de direita, quando a gente não gosta de uma coisa, a gente não faz. Agora, a esquerdalha, quando não gosta, quer que ninguém faça. No que depender do governo federal, perderam mais uma”, afirmou.
Pela manhã, ao conversar com apoiadores na porta do Palácio da Alvorada, Bolsonaro já havia defendido a realização do campeonato no Brasil.
“No que depender de mim, todos os ministros —inclusive o da Saúde—, já está acertado, haverá [Copa América no Brasil]. Protocolo é o mesmo da Libertadores, da Sul-Americana, é a mesma coisa”, disse Bolsonaro, ao sair do Palácio da Alvorada.
Ele ainda acusou a TV Globo de estar por trás das reações contra a organização do campeonato no Brasil, por conta de direitos de transmissão.
“O que está havendo aqui? O movimento da Globo contrário, porque os direitos de transmissão são do SBT”, afirmou Bolsonaro.
Horas mais tarde, em evento no Palácio do Planalto, Bolsonaro voltou a abordar o tema. Ele afirmou que, ao ser sondado pela CBF, consultou ministros que tinham algum envolvimento com o assunto.
“Foi unânime. Deixo bem claro: unânime. Todos deram sinal positivo”, disse.
Procurada sobre a tabela e distribuição das equipes por sedes, a CBF informou que a Conmebol é quem deverá fazer os anúncios relativos à competição. Já a entidade que comanda o futebol sul-americano disse que ainda divulgará as rodadas e locais.
O início da competição está previsto para 13 de junho, com a disputa da final em 10 de julho.
O relator da CPI da Covid, senador Renan Calheiros (MDB-AL), afirmou nesta terça que é “inacreditável” que o governo federal queira sediar a Copa América no Brasil no momento de agravamento da pandemia do coronavírus.
“Seria transformar essa copa em campeonato da morte. Já que nós não podemos fazer um apelo ao presidente, ao Ministério da Saúde e à CBF, que tem se transformado em negacionista e irresponsável, quero me dirigir à seleção brasileira, aos seus jogadores, aos treinadores, ao Neymar”, disse.
“Neymar, não concorde com a realização dessa Copa América no Brasil. Não é esse o campeonato que nos precisamos disputar. Precisamos disputar o campeonato da vacinação, é esse que precisamos disputar e ganhar. […] Não [se] permita entrar em campo enquanto os seus parentes, conhecidos, continuam a morrer”, acrescentou Renan.
Na segunda-feira, a Conmebol informou que a Copa América ocorreria no Brasil, após a desistência tanto da Colômbia como da Argentina. Os colombianos abriram mão do campeonato por conta dos protestos e da violência registrados nas ruas do país, e os argentinos apontaram o recrudescimento da pandemia da Covid.
O governo Bolsonaro foi criticado por concordar com a chegada da competição ao Brasil, onde o coronavírus já deixou mais de 460 mil mortos.