Alemães levam Chelsea ao título da Champions e reafirmam sua influência
Equipe de Londres bate Manchester City de Guardiola e conquista bicampeonato europeu
BRUNO RODRIGUES
Thomas Tuchel era técnico do Paris Saint-Germain na edição anterior da Champions League, quando chegou à final e, na hora da entrega das medalhas, passou ao lado da taça de campeão pouco antes de os jogadores do Bayern de Munique, comandados pelo também alemão Hansi Flick, levantarem o troféu.
Na temporada 2018/2019, que antecedeu o título dos bávaros, coube a Jürgen Klopp alçar o Liverpool ao lugar mais alto do pódio no futebol europeu.
Após flertar com o sucesso e vê-lo negado pelo gol de Kingsley Coman em Lisboa, em 2020, Tuchel precisou voltar a Portugal para reivindicar uma taça que, agora sim, pode ser chamada de sua. E para confirmar que o jogo praticado na Europa, apesar de diverso ao reunir atletas de todo o mundo, é regido sob forte influência alemã.
Neste sábado (29), diante de 14.110 torcedores presentes no Estádio do Dragão, no Porto, o Chelsea de Thomas Tuchel venceu o Manchester City de Pep Guardiola por 1 a 0, gol de Kai Havertz, e conquistou o título da Champions, o segundo dos londrinos em sua história.
Admirador confesso de Guardiola, com quem se acostumou a compartilhar jantares desde a experiência de Pep como técnico do Bayern, Thomas Tuchel é uma espécie de cria de Jürgen Klopp, responsável por mostrar ao futebol alemão que não é preciso ter sido uma estrela enquanto jogador para se tornar um treinador competente.
O início da trajetória de ambos, inclusive, é muito semelhante. Assim como Klopp, Tuchel não brilhou nos gramados. Se aposentou aos 25 anos de idade, por problemas nos joelhos, depois de atuar em clubes da terceira e da segunda divisão alemã.
Quando o mentor impressionou com seu trabalho no Mainz, recebeu o convite do Borussia Dortmund, levando a equipe ao bicampeonato da Bundesliga. A essa altura, Thomas Tuchel era o responsável por campanhas surpreendentes do Mainz na elite.
Quando Klopp deixou o Dortmund, entenderam que fazer o convite a Tuchel era a escolha natural.
Campeão europeu neste sábado, o atual técnico do Chelsea não tem o mesmo carisma de Klopp, mas é tão ou mais aplicado no trabalho do dia a dia, incorporando conhecimentos de outras áreas e esportes – como salto em altura e tênis– para desenvolver as qualidades de seus atletas.
Sua competência foi provada no grande palco com a campanha da temporada passada, no comando do Paris Saint-Germain, levando uma equipe que nunca havia sido finalista à decisão da Champions League.
Na semifinal daquela edição, eliminou o RB Leipzig de Julian Nagelsmann, outro alemão, e ex-assistente de Tuchel no passado. Não pode ser apenas uma coincidência que tantos treinadores do país construam times tão competitivos e tenham êxito no melhor futebol do mundo.
Em determinados momentos da final contra o Bayern, na temporada passada, seu PSG foi melhor, mas acabou castigado por um time avassalador, que ganhou todas as partidas que disputou no torneio
Neste sábado, os comandados de Tuchel foram mais uma vez superiores do que seu rival. Contudo, aproveitaram melhor as oportunidades para sair na frente do Manchester City e levar o título para Londres.
Melhor que a equipe de Guardiola, o Chelsea aproveitava as roubadas de bola na pressão alta, uma característica do futebol alemão moderno, para jogar bem próximo da área do City.
A movimentação dos alemães (vejam só) Kai Havertz e Timo Werner e também do inglês Mason Mount levou problemas à defesa adversária, que se mostrou muito exposta na etapa inicial.
Perto do intervalo, o zagueiro brasileiro Thiago Silva, vice-campeão na temporada passada com Tuchel, sentiu um problema na virilha e precisou deixar o gramado. De fora, viu a equipe confirmar o triunfo e ser campeã. É o primeiro título de Champions do defensor em 12 anos de Europa.
Timo Werner, contestado pelos torcedores do Chelsea, teve pelo menos duas boas chances para abrir o placar nos primeiros 45 minutos, mas desperdiçou ambas. Apesar das oportunidades perdidas, foi importante no gol que abriu o placar no Porto.
Após recuperar a posse, Mount recebeu pela esquerda, na altura da faixa central, e viu Havertz disparar em velocidade. Timo Werner arrastou um marcador e abriu o espaço para que o seu compatriota entrasse livre, cara a cara com Ederson. Havertz tentou driblar o goleiro brasileiro, que chegou a tocar na bola, mas a ela sobrou para o camisa 29 tocar para o fundo do gol.
Pep Guardiola, que quando comandou o Bayern na década passada reinverteu a pirâmide tática colocando cinco atacantes para prender e sufocar os defensores rivais, fez alterações para buscar que sua equipe ocupasse ainda mais o campo ofensivo.
As tentativas do City, porém, esbarraram no muro defensivo dos londrinos, atentos e bem fechados atrás. Para dificultar a missão de igualar o placar, seu principal articulador, Kevin De Bruyne, candidato a melhor jogador do mundo, deixou o campo lesionado.
Com a derrota no Porto, Guardiola perdeu pela primeira vez uma decisão de Champions como técnico. Com o Barcelona, ele foi campeão em 2009 e 2011.
Na final disputada pelos ingleses, donos da liga mais atrativa do planeta, Thomas Tuchel lembra que o melhor futebol do mundo de fato se joga na Europa, mas o sotaque que rege o jogo é alemão.