Acusações entre chefes de equipes impulsionaram rivalidade Hamilton x Verstappen
LUCIANO TRINDADE
Em um ano marcado por disputas acirradas entre Lewis Hamilton e Max Verstappen nas pistas, a briga nos bastidores entre as escuderias amplificou a rivalidade entre os pilotos.
Depois de sete anos de hegemonia —com sete títulos de pilotos e sete de construtores consecutivos—, a equipe alemã passou a ter um antagonismo na F1. E reviveu a competitividade nos boxes vista em épocas anteriores, como no auge das disputas entre Ferrari e McLaren.
A Mercedes acabou ficando com o título de construtores, com 613,5 pontos, contra 585,5 da Red Bull. Mas a jornada decisiva foi mesmo de festa dos austríacos, com o título de Verstappen. O holandês chegou aos 395,5 e deixou Hamilton (387,5) para trás na última volta da temporada.
As discussões mais acaloradas começaram na metade do ano, sobretudo no GP da Inglaterra. Logo na segunda volta da prova, Hamilton tentou assumir a ponta, Verstappen não cedeu, e houve uma batida. O holandês foi parar no muro. Seu rival superou uma punição pelo ocorrido e conquistou a vitória.
Na Itália, no GP de Emília-Romagna, foi a vez de a Mercedes criticar Verstappen, após o holandês bater em Hamilton e voar com seu carro por cima do veículo do rival, tirando os dois da prova.
Hamilton relatou dores na cabeça depois do acidente e ficou incomodado quando Helmut Marko, consultor da Red Bull, acusou-o de fazer um “show” após o ocorrido. “É natural quando um carro cai em cima da sua cabeça ser um pouco desconfortável”, respondeu o britânico.
Para Wolff, “estava claro para Max que aquilo acabaria numa batida”. Horner afirmou que ficou “desapontado” com a visão do adversário.
A pressão da equipe alemã acabaria resultando em uma punição a Verstappen, que perdeu cinco posições no grid de largada da corrida seguinte, na Rússia.
Na reta final do campeonato, mais debates. Primeiro em São Paulo, onde não faltaram polêmicas, como a asa traseira irregular de Hamilton, o novo motor da Mercedes e, sobretudo, o incidente durante a corrida, quando o inglês tentou passar o holandês e viu o rival espalhar seu carro, jogando os dois fora do traçado.
Verstappen não foi punido no Brasil, causando irritação na equipe alemã. Na véspera da corrida na Arábia Saudita, Horner ainda tratou de jogar mais lenha na fogueira ao acusar Wolff de tentar fazer um jogo midiático na F1. Sem a mídia, disse, ele não seria nada.
“Por baixo dessa armadura toda, Toto é uma galinha”, disparou. A corrida teve um clima ainda mais pesado, principalmente depois que Verstappen provocou uma batida em Hamilton. Obrigado a devolver a posição após ser punido, o holandês freou repentinamente, e o inglês bateu na traseira do carro dele.
Apesar do incidente, o piloto da Mercedes conseguiu se manter na pista e vencer. O holandês foi punido pela manobra e teve 10 segundos acrescidos ao seu tempo de corrida, algo que não foi suficiente para impedir que chegasse em segundo. A escuderia alemã esperava por uma punição mais pesada, como a desclassificação do rival.
O clima da penúltima prova do ano criou uma atmosfera de enorme expectativa para a corrida derradeira. E ela manteve o padrão, com um toque entre Hamilton e Verstappen logo na primeira volta. O holandês queria punição ao adversário, o que não aconteceu.
No finalzinho da corrida, nova discussão. Com a entrada do safety car na pista, a Mercedes não queria que Verstappen fosse autorizado a ultrapassar os retardatários que estavam à sua frente. A FIA o autorizou e lhe deu a chance de ultrapassar Hamilton na última volta para conquistar o título.
Se alguns pilotos costumam reclamar que a Netflix exagera ao criar rivalidades na produção da série Drive to Survive (Dirigir para Sobreviver), que retrata os bastidores da categoria, os chefes das equipes parecem gostar de criar um show à parte.
“Nós estamos no ringue tentando fazer o melhor trabalho possível. Tiramos a luva e lutamos”, disse Wolff. “Respeito o que a Mercedes e o Lewis fizeram [na F1], mas não preciso jantar com Toto e beijar sua bunda, como outros chefes podem fazer. É a primeira vez em sete anos que eles são desafiados”, afirmou Horner.
Em uma temporada na qual a rivalidade foi enorme nas pistas, o clima não foi muito mais ameno nos boxes.