Thiago Wild surpreende e derrota número dois do mundo em Roland Garros
SÃO PAULO – Thiago Seyboth Wild, 23, estabeleceu enorme zebra na primeira rodada de Roland Garros. Na manhã francesa de terça-feira (30), o brasileiro derrotou o russo Daniil Medvedev, 27, cabeça de chave número dois do Grand Slam parisiense.
Em quatro horas e 15 minutos, o 172º colocado do ranking da ATP (Associação dos Tenistas Profissionais) prevaleceu sobre o segundo do mundo. Ao fim da batalha, o placar apontava 3 sets a 2, com parciais de 7/6 (7/5), 6/7 (6/8), 2/6, 6/3 e 6/4.
Wild, que teve de sobreviver ao torneio qualificatório para entrar na chave principal, de repente se viu na quadra central, a Philippe-Chatrier. E não se apequenou, avançando à segunda rodada do tradicional torneio de tênis.
O paranaense enfrentará na sequência da competição o francês Quentin Hallys, 26, 88º no ranking, que derrubou o argentino Guido Pella, 33, número 423 do mundo. O confronto ocorrerá na quinta-feira (1º), ainda sem hora marcada.
A expectativa era de uma vitória tranquila na estreia, como ocorrera com o espanhol Carlos Alcaraz, cabeça de chave número um, e com o sérvio Novak Djokovic, cabeça de chave número três. Mas Wild se mostrou um adversário bem mais duro do que o imaginado.
O favorito começou bem e logo conseguiu uma quebra de saque, mas a zebra reagiu e levou a primeira parcial no “tie-break”. O segundo, sem quebras, também teve o game de desempate. Wild chegou a abrir 6 a 4, porém desperdiçou dois “set points”.
Parecia que o momento era todo de Medvedev, que igualou o placar e, em seguida, venceu o terceiro set com facilidade. O paranaense reagiu, no entanto, e o jogo ficou tenso, com múltiplas quebras de saque e momentos de irritação do russo, que, vaiado, pedia silêncio.
Campeão do US Open em 2021, o russo viu o rival rir por último. Em uma pancada de direita fora do alcance do adversário, Thiago interrompeu a busca do moscovita por mais um título na série Grand Slam, que reúne os quatro principais campeonatos do tênis.
O brasileiro agora tenta fazer no circuito o barulho que parecia capaz de fazer em seus tempos de juvenil, quando venceu o US Open. A transição para o “tour” profissional, porém, não foi fácil, e ele jamais esteve no grupo dos cem primeiros colocados do mundo.
Seu grande momento foi a conquista do ATP 250 de Santiago, em 2020, no saibro. Aos 19 anos, ele se tornou o brasileiro mais jovem a ganhar um torneio de nível ATP, superando o craque Gustavo Kuerten, campeão de Roland Garros aos 20.
“Muito legal ter superado uma marca do Guga, mas ganhei um ATP 250. O Guga, com 20 anos, ganhou um Grand Slam. Então, não se compara”, afirmou à Folha, à época, sem saber que seu próximo momento de brilho viria justamente na terra batida francesa.
Entre o título no Chile e a zebra contra Medvedev, três anos depois, o tenista de Marechal Cândido Rondon não registrou grandes resultados. E se viu envolvido em questões espinhosas fora da quadra, como quando, com Covid-19, foi obrigado a se recolher em casa pela Justiça do Paraná.
Houve também acusações de agressão por parte de uma ex-namorada, em 2020.
Wild foi denunciado pelo Ministério Público do Rio de Janeiro, e a denúncia foi aceita pela Justiça fluminense. Segundo a denúncia, Thiago “praticou vias de fato em face de sua ex-companheira […] ao apertar abruptamente o dedo desta”.
O texto do MP-RJ apontava ainda que “o denunciado, valendo-se do fato de a vítima ser sua dependente financeira, humilhava e ridicularizava sua companheira perante familiares e amigos, chamando-a de incapaz, louca, lixo, piranha”.
De acordo com a defesa do atleta, “áudios e vídeos já apresentados às autoridades competentes comprovam a falsidade e a ilegalidade das acusações”. O paranaense divulgou uma nota, na qual chamou essas acusações de “inverídicas e difamatórias”.
O tenista concluía dizendo que deixaria o “infeliz assunto” com sua assessoria jurídica e retomava o foco no esporte. Focado, ele espera dar sequência a uma campanha em Roland Garros que começou de maneira bastante surpreendente.