‘Cercados’: Documentário mostra o trabalho da imprensa na cobertura da pandemia
Em “A corrida das vacinas”, série documental do Globoplay em parceria com o departamento de jornalismo da TV Globo, Álvaro desvenda os bastidores da busca pelos imunizantes contra a Covid-19. Disponíveis semanalmente, os cinco episódios mostram a disputa contra o tempo para salvar vidas.
– A gente queria uma visão cinematográfica sobre a pandemia, sem parecer apenas mais uma matéria de 2h que poderia ser exibida na televisão – conta o repórter, também diretor do projeto.
Clima tenso na Rússia
Álvaro estrutura a roteirização da série em um tripé temático: o prisma científico, a dimensão humana e a guerra geopolítica, no Brasil e no mundo. Sua equipe esteve na Rússia e na Índia, onde conversou com autoridades, representantes de laboratórios e acompanhou os sistemas locais de vacinação.
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Ao falar sobre a passagem de duas semanas pelo país de Vladimir Putin, em dezembro, Álvaro lembra dos cuidados e atenção redobrada a cada passo que era dado durante as gravações. De perto, ele acompanhou a aprovação em tempo recorde da vacina Sputnik V.
– Os postos de saúde liberados para filmagem claramente eram uns circos montados para a imprensa internacional. Então, eles ficavam furiosos quando nos viam fugindo, em busca de locais menos visados – conta o repórter. – Do nada, a gente descobria uma pessoa infiltrada, de olho na gente, se passando por alguém na fila de vacinação.
Já na Índia, nação que abriga o Instituto Serum, maior fabricante de vacinas contra a Covid do mundo, Álvaro e seu time encontraram clima bem menos hostil. Por lá, questionaram a alguns executivos de laboratórios locais, como o Bharat Biotech, sobre a impressão deles diante da gestão da pandemia no Brasil.
RNA é o futuro
Um dos grandes trunfos de “A corrida das vacinas”, sem dúvida, é o farto material de entrevistas com cientistas dos mais diversos laboratórios envolvidos nas pesquisas, como Pfizer, Sinovac, Instituto Sabin e Oxford/Astrazeneca. Também merece destaque o encontro com Barney Graham, um dos responsáveis pela criação da vacina de RNA mensageiro da Moderna.
Das conversas com tantos especialistas dedicados não somente à descoberta de imunizantes como também à sua evolução, Álvaro traz uma luz sobre o futuro das pesquisas sobre a Covid.
– A corrida não acabou. Há novas vacinas surgindo, assim como segue em curso a investigação sobre seus efeitos – diz o repórter. – Acredito que a vacina de RNA é o futuro, por não demandar o cultivo do vírus em laboratório, o que torna o processo mais rápido e barato. Nesse aspecto tecnológico, se destacam EUA, Alemanha e Austrália.
Ciência, dinheiro e poder
Se a corrida das vacinas ainda não acabou, tampouco teve fim o trabalho da equipe da série. Álvaro e seu time de cinegrafistas, roteiristas e produtores continuam acompanhando o cotidiano de voluntários brasileiros que tomaram vacinas experimentais, assim como a rotina de cidadãos anônimos que permanecem confinados em casa à espera da chegada do imunizante ao próprio braço.
É o caso de Dona Salua, de 95 anos, que mora a algumas ruas da casa de Álvaro, em São Paulo. A série registra de forma muito delicada a trajetória da personagem pela pandemia, desde os primeiros dias, quando o isolamento ainda era uma novidade, passando por momentos de forte desgaste emocional, até a segunda dose da vacina, recebida por Salua há poucos dias.
– Ela mora sozinha, tem um raciocínio rápido, é muito engraçada. Mas jamais entramos na casa dela, por causa do distanciamento – conta o repórter. – Temos personagens de várias idades e classes sociais, esta foi uma prioridade nossa.
Álvaro segue colhendo material jornalístico, uma vez que há a chance de lançamento de mais episódios além dos cinco programados inicialmente. Por enquanto, o repórter lida com as certezas já abstraídas após quatro meses de gravações.
– Os cientistas assumem que não é somente uma corrida contra o vírus, mas também entre laboratórios e envolve muito dinheiro. Com a soma de uma forte disputa geopolítica, como vemos no Brasil, com Bolsonaro e Dória, e lá fora, entre Rússia, China e Estados Unidos.