Rover revela novas evidências sobre moléculas que podem indicar vida em Marte

Descobertas sugerem a presença de rochas em um local onde existiu um lago

O rover Perseverance faz uma sélfie na superfície de Marte, onde está coletando amostras de rochas

O rover Perseverance faz uma selfie na superfície de Marte, onde está coletando amostras de rochas – 10.set.21 – Nasa/JPL-Caltech/MSSS/via Reuters
Will Dunham
WASHINGTON|REUTERS/FOLHA DE S.PAULO

Estão aumentando as evidências sobre o que pode ser uma grande quantidade de moléculas orgânicas —um potencial indício de vida— em Marte. Novas descobertas do rover Perseverance da Nasa sugerem a presença de uma diversidade de rochas num local onde existiu um lago há muito tempo.

A evidência mais recente vem de um instrumento chamado Sherloc montado no braço robótico do rover, um veículo de seis rodas que permite um mapeamento detalhado e a análise de moléculas orgânicas. Pesquisadores estão relatando as descobertas do Sherloc em dez locais de duas formações geológicas no fundo da cratera Jezero.

Eles obtiveram evidências que indicam a presença de moléculas em várias amostras de rocha, incluindo algumas coletadas para possível retorno à Terra para análise futura. Os pesquisadores observaram que a evidência de tais moléculas não é prova de vida passada ou atual em Marte, e que processos não biológicos ainda são uma explicação mais provável.

“Os orgânicos são os blocos de construção moleculares da vida como a conhecemos, mas também podem ser formados a partir de processos geológicos não diretamente relacionados com a vida. Vemos vários sinais que parecem variar entre as formações do fundo da cratera e nos minerais aos quais estão associados”, disse o astrobiólogo Sunanda Sharma, do Laboratório de Propulsão a Jato da Nasa, na Califórnia, principal autor da pesquisa publicada nesta quarta (12) na revista Nature.

O Perseverance, numa missão para procurar evidências de vida antiga em Marte e coletar amostras de rocha e solo para possível retorno à Terra, pousou em fevereiro de 2021 na cratera Jezero, uma área no hemisfério norte do planeta que já foi inundada por água e abriga uma antiga bacia lacustre.

Marte nem sempre foi o lugar inóspito que é hoje —teve água líquida em sua superfície no passado distante. Cientistas suspeitam que pode ter existido vida microbiana na cratera de Jezero. Eles acreditam que canais de rios escorreram pela parede da cratera e criaram um lago há mais de 3,5 bilhões de anos.

Sinais de moléculas orgânicas foram detectados nos dez locais que o Sherloc —abreviação de Scanning Habitable Environments with Raman and Luminescence for Organics and Chemicals (Explorando Ambientes Habitáveis com Raman e Luminescência para Orgânicos e Produtos Químicos)— estudou no fundo da cratera. As rochas eram ígneas — de formação vulcânica.

O Sherloc emprega câmeras, um laser e instrumentos chamados espectrômetros que analisam comprimentos de onda de luz para procurar moléculas orgânicas que podem ser sinais de vida microbiana passada. Aderindo ao tema Sherlock Holmes, Sherloc é assistido por Watson, uma câmera colorida para obter imagens em close da granulação de rochas e texturas da superfície.

Os pesquisadores não conhecem os compostos orgânicos específicos que o Sherloc detectou, mas têm algumas pistas. O coautor do estudo Ryan Roppel, estudante de pós-graduação em química da Universidade de Pittsburgh, disse que as assinaturas químicas podem vir de compostos como benzeno ou naftaleno (ou naftalina).

“Na Terra, estes são bastante comuns no petróleo bruto, que tem uma origem biótica, mas também podemos formá-los sinteticamente por meio de várias reações químicas”, disse Roppel.

“As concentrações que detectamos são geralmente baixas, mas observamos sinais associados a orgânicos em quase todas as rochas que amostramos”, acrescentou.

Roppel disse que os pesquisadores não podem descartar que fontes inorgânicas —metálicas— podem ser responsáveis por alguns dos sinais que sugerem moléculas orgânicas.

Sinais de moléculas orgânicas foram detectados pela primeira vez em Marte em 2015 por outro rover, chamado Curiosity, seguido por mais provas nos anos seguintes. Com Perseverance agora detectando possíveis assinaturas de moléculas orgânicas, acumulam-se evidências de que as moléculas orgânicas podem ser relativamente comuns em Marte, embora em níveis baixos.

Os pesquisadores permanecem cautelosos sobre as descobertas.

“Existem mecanismos bióticos e abióticos que podem formar moléculas orgânicas. Poeira interplanetária, queda de meteoritos ou interações água-rocha podem produzir orgânicos abioticamente”, disse Roppel. “Por outro lado, a vida antiga também poderia produzir esses orgânicos, mas geralmente é a hipótese de último recurso. Precisamos descartar todos os mecanismos abióticos antes de saltar para a conclusão de que qualquer molécula orgânica é um sinal de vida.”

Tradução de Luiz Roberto M. Gonçalves

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