Relatório de Renan Calheiros causou briga no grupo de WhatsApp da CPI da Covid

Malu Gaspar

O Globo

Começou no WhatsApp o racha que levou o senador Renan Calheiros a adiar a divulgação do relatório da CPI da Covid para a semana que vem. Assim que notaram que alguns veículos de imprensa traziam trechos do relatório final ainda em elaboração pela equipe de Calheiros, integrantes do grupo que reúne o chamado “G7 ampliado” – os senadores que comandam a CPI, mais suplentes e agregados – o acusaram de descumprir o compromisso de que ninguém teria acesso ao documento antes deles.

O presidente da CPI, Omar Aziz, foi o mais indignado ao constatar o vazamento. Acusando Renan de não cumprir o que promete, Aziz disse que não votaria o relatório sem discussão prévia. O documento tem mais de mil páginas e será discutido numa reunião do G7 nesta segunda-feira (18) à noite.

Para parte dos senadores, Calheiros quer capitalizar politicamente o último momento de exposição na CPI da Covid incluindo crimes que não se sustentam. Temem, inclusive, que alguns trechos sirvam de desculpa para que o Procurador-Geral da República, Augusto Aras, arquive o relatório, alegando falta de substância. Eles querem que Calheiros modifique pelo menos três pontos do documento.

O primeiro é a tipificação dos crimes de Jair Bolsonaro. Integrantes do G7 acham que não é possível sustentar a responsabilidade do presidente da República por onze crimes, especialmente o de homicídio qualificado. Acreditam que configurar de forma sólida o argumento em torno de quatro ou cinco crimes  já seria suficiente para responsabilizar Bolsonaro pelas 600 mil mortes por Covid-19 e a má condução do combate à pandemia.

Num relatório alternativo apresentado na semana passada, o senador Alessandro Vieira (Cidadania-SE) atribuiu cinco crimes a Bolsonaro: crime de responsabilidade, crime de epidemia, infração de medida sanitária preventiva, incitação ao crime e crime contra a humanidade. Para outros senadores, Bolsonaro também é culpado de prevaricação, omissão e crime contra a saúde pública.

Além disso, a maior parte acha que não há elementos para indicar Flávio Bolsonaro por advocacia administrativa a favor do dono da Precisa Medicamentos. Para lembrar, no ano passado o filho do presidente levou o dono da Precisa, Francisco Maximiano, ao BNDES, para pedir empréstimos para outra empresa sua. Calheiros  também deve propor o indiciamento de outros dois filhos de Bolsonaro, Carlos e Eduardo.

E por último, nem todos os senadores do G7 concordam com a acusação de genocídio contra indígenas. Tasso Jereissati (PSDB-CE), Eduardo Braga (MDB-AM), Otto Alencar (PSD-BA) e Alessandro Vieira (Cidadania-SE) acham que houve descaso, mas não uma matança generalizada como quer configurar Calheiros.

Diante da forte reação dos colegas de CPI, o relator recuou, até porque não teria unanimidade para aprovar os pontos mais polêmicos. Depois da reunião desta segunda, o relator fará mudanças no texto e deve começar a ler o relatório na própria CPI a partir desta quarta-feira (20).  O relatório será votado apenas na semana que vem.

Compartilhe
Notícias Relacionadas
Deixe um comentário

O seu endereço de e-mail não será publicado. Campos obrigatórios são marcados com *

    Sites Profissionais
    Informe seus dados de login para acessar sua conta