Fernando Diniz nunca foi tão Brasinense
Sandro Macedo*
Blog/Folha de S.Paulo
Em um dia, o sujeito ganha a Taça Libertadores, título mais importante para ele, para o clube, para um monte de gente, incluindo Chico Buarque. Mal dá tempo de curar a suposta ressaca e ele já está convocando a seleção brasileira. Foi tudo tão corrido que Fernando Diniz usou a mesma barba no Fluminense e na coletiva da convocação.
Pouco antes da final de sábado, vi em uma rede social uma postagem da minha querida amiga e colunista desta Folha Mariliz Pereira Jorge, dizendo que torceria para o Flu, para ver os amigos felizes e também porque o Fluminense era Brasil contra o Boca.
Na hora fiquei cabreiro, como diria meu finado pai. Deve ser algum trauma que carrego dos anos 1980, quando fui educado futebolisticamente por Galvão Bueno. Achava que todo time do país era Brasil na Libertadores, emprestava minha torcida e, no dia seguinte, era achincalhado pelos amiguinhos da véspera —meu irmão até hoje me deve algumas torcidas que emprestei.
Este escriba também tem o mau hábito de associar tudo o que acontece no universo com algum filme —culpa dos muitos anos à frente de uma videolocadora. E essa dupla identidade de Diniz me lembra muito o carismático “Eu, Minha Mulher e Minhas Cópias”, sucesso dos anos 1990 (sempre eles) com Michael Keaton e Andie MacDowell.
Na comédia, um homem que não conseguia lidar com várias funções conhece um cientista que providencia clones, mas cada um acaba assumindo uma personalidade diferente, do sensível ao brucutu.
Após uma avaliação minuciosa, este escriba chegou a conclusão de que Diniz tem alguns clones. Um deles é adorado por jogadores nos treinos e preleções, prega o futebol jogado com alegria e felicidade. É o clone gente boa.
Na beira do campo entra o clone brucutu, que fala mais palavrões que o sabão é capaz de lavar, faz cara feia e xinga um bocado. Entretanto, na hora de comemorar, chega o clone cambalhota, que beija todo mundo, levanta jogadores xingados no colo e faz coração para a torcida. Um fofo.
Quando Diniz vai para a seleção brasileira, entra o clone travadão. Perceba que ele faz a mesma posição corporal na beira do campo e suas feições são exatamente as mesmas. Mas ele não dá bronca em ninguém, não destrata nem a mãe do assoprador de apito, o que é permitido até em Copa do Qatar. Pior, o clone travadão elogia tudo o que Neymar faz, até emojis.
No entanto, na convocação da seleção brasileira nesta segunda (6), o professor Fernando Diniz pareceu mais Brasinense do que nunca, provavelmente deu férias para o clone travadão. Assim, fez a melhor lista desde que assumiu seu segundo emprego —ajudou-o o fato de medalhões como Danilo e Neymar estarem contundidos.
O professor usou o mantra “futebol é momento”, olha que loucura. Atacantes que não fazem gol não foram chamados, incluindo Richarlison, o boa-praça, mas que não é nem o melhor “son” do Tottenham.
Um ataque com Vinicius Jr., Gabriel Martinelli e o novato Endrick tem tudo para fazer barulho nos próximos anos de Carlo Ancelotti (será que vem?) —sem contar Vitor Roque, o adolescente contundido. Sábios dirão no futuro, quiçá na Copa de 2026, que esse foi o legado de Fernando Diniz, o original.
Só dá final antecipada
Não perca, nesta quarta (8), Flamengo x Palmeiras, a final antecipada que acontece um dia antes de Grêmio x Botafogo, a final antecipada. Depois, no sábado, tem Fla x Flu, uma final antecipada. Já no domingo, corações vão pulular com Bragantino x Botafogo, que, como todos sabem, é a final antecipada.
* SANDRO MACEDO
Formado em jornalismo, começou a escrever na Folha em 2001. Passou por diversas editorias no jornal e atualmente assina o blog Copo Cheio, sobre o cenário cervejeiro, e uma coluna em Esporte