Datafolha: Alckmin e Haddad aparecem à frente na disputa pelo Governo de São Paulo
Ex-governador tem 26%, e petista, 17%; em cenário sem o tucano, que deve sair do PSDB, ex-prefeito lidera com 23%
SÃO PAULO – O ex-governador Geraldo Alckmin, que está com a sua saída anunciada do PSDB, encabeça a corrida eleitoral para o Governo de São Paulo em 2022, com 26% das intenções de voto, segundo o Datafolha. Fernando Haddad (PT) vem numericamente em segundo, com 17%, e lidera com 23% em um cenário sem Alckmin.
Na sequência vêm o ministro da Infraestrutura, Tarcísio de Freitas (sem partido, com 4%) —tido hoje como o pré-candidato apoiado pelo presidente Jair Bolsonaro (sem partido)— e o deputado estadual Arthur do Val, o Mamãe Falei (Patriota, com 4%).
Por fim, com 1% cada, o ex-ministro da Educação Abraham Weintraub (sem partido) e o deputado federal Vinicius Poit (Novo). Nulo ou branco somam 17% dos entrevistados; 3% responderam que não sabem.
A pesquisa foi realizada de segunda (13) a quarta-feira (15) da semana passada e ouviu 2.034 pessoas de 16 anos ou mais em 70 cidades do estado. A margem de erro do levantamento é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.
O segundo cenário estimulado pelo Datafolha inclui o atual vice-governador do estado, Rodrigo Garcia (PSDB), candidato à sucessão escolhido pelo governador João Doria (PSDB), que, por sua vez, mira a Presidência e busca ser confirmado em prévias como o nome do partido na disputa nacional.
Recém-saído do DEM, Garcia aparece em quinto lugar, com 5%, atrás de Haddad (23%), França (19%), Boulos (13%) e Tarcísio (6%). Arthur também tem 5%, Weintraub possui 2% e Poit, 1%.
A diferença entre Haddad e França, de quatro pontos percentuais, está no limite máximo da margem de erro, portanto uma situação improvável de empate técnico. Votos brancos e nulos chegam a 22%; 4% das pessoas ouvidas disseram não saber em quem votar.
Com Alckmin fora da disputa, 25% de seus eleitores optam por Haddad, 20% por França e 12% por Garcia.
Associado à imagem de político do interior, o ex-governador obtém justamente nesse território sua melhor pontuação. Sua intenção de voto alcança 32% nas cidades do restante do estado, enquanto na capital fica em 18%.
No cenário de primeiro turno em que foram testados os nomes de Alckmin e Haddad, o petista tem performance levemente pior no interior, onde registra 15%, mas cresce para 21% quando são consideradas somente as respostas da capital.
O levantamento, a pouco mais de um ano do pleito, é o primeiro realizado pelo Datafolha para medir o humor do eleitorado sobre a briga pelo Palácio dos Bandeirantes. Mesmo com a ressalva de que nomes e composições ainda devem se alterar, já é possível identificar alguns movimentos.
O histórico de alguém que já governou o estado por mais de 12 anos (2001 a 2006 e 2011 a 2018) coloca Alckmin em uma posição de vantagem, mesmo com a indefinição partidária. Escanteado no PSDB com a ascensão de Doria na máquina estadual, ele deve se filiar ao PSD para concorrer.
Vindo de um fracasso na disputa presidencial de 2018, da qual saiu com 4,7% dos votos e a quarta colocação, o ex-governador se recolheu e hoje faz articulações de bastidores. Ele tem apostado na aproximação com sindicatos, além de manter bom trânsito com prefeitos do interior.
Outro ponto de destaque da sondagem é o desempenho de Haddad, ex-prefeito que saiu derrotado da tentativa de reeleição na capital e foi o representante do PT na corrida presidencial de 2018, após a candidatura do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ter sido barrada pela Lei da Ficha Limpa.
Livre desde março das condenações na Operação Lava Jato que o tiraram do pleito, Lula hoje mantém a primeira colocação nas sondagens para 2022, com larga vantagem sobre Bolsonaro. Em um eventual segundo turno, o petista venceria o rival por 56% a 31%, conforme o Datafolha.
Com Lula apto a concorrer ao Planalto, Haddad saiu da cena nacional e passou a representar o PT no front local. Diante das restrições da pandemia, concentrou suas atividades eleitorais em giros pelas regiões do estado, com encontros virtuais com dirigentes do PT e entrevistas a rádios.
O objetivo é fazer um diagnóstico dos problemas de cada região para abordá-los em seu plano de governo. No mês passado, Haddad teve atividades de rua, com visitas a universidades e fábricas na região do ABC.
O primeiro pelotão de candidatos se completa com França, que foi vice de Alckmin, assumiu o governo por nove meses em 2018, tentou se reeleger e foi ao segundo turno contra Doria, perdendo por uma margem estreita (48% a 52%). Tentou a eleição para prefeito da capital em 2020 e acabou em terceiro lugar.
De uma ala mais moderada do PSB, França não descarta repetir a dobradinha com Alckmin, assumindo novamente o papel de vice, mas depende das alianças que o seu partido fechará no plano nacional. Atualmente, a sigla tende a apoiar Lula, o que pode interferir na questão local.
França não abandonou seu discurso eleitoral de 2018 e se apresenta ao eleitorado como o candidato anti-Doria nas redes sociais e em entrevistas.
Menos conhecido do eleitor paulista, Boulos também participou da eleição para a Prefeitura de São Paulo em 2020, na qual despontou como um novo líder da esquerda, ao fazer sombra sobre o candidato do PT, Jilmar Tatto, e chegar ao segundo turno contra Bruno Covas (PSDB).
O desempenho de Boulos na pesquisa, ao mesmo tempo em que Haddad aparece em ascensão, tem potencial para elevar a pressão sobre os dois pré-candidatos em torno de uma eventual aliança, já que a manutenção das duas pré-candidaturas tende a dividir os votos da esquerda.
No PSOL, há resistência em retirar a candidatura de Boulos, sobretudo pelo fato de que a tendência do partido é não ter candidato próprio à Presidência para apoiar Lula. Já o PT considera Haddad mais competitivo e vê o psolista como um possível candidato à prefeitura da capital em 2024.
Com 5%, Garcia ainda é desconhecido da maior parte do eleitorado. Em maio, sua filiação ao PSDB, considerada mais um movimento político abrupto de Doria, bloqueou o espaço à candidatura de Alckmin no partido e implodiu o apoio do DEM nacional ao governador.
Desde então, Garcia, que é uma espécie de gerente executivo do governo Doria, vestiu o figurino de candidato. A cada semana, o vice visita cidades e faz uma série de entregas —de escolas a cestas básicas. Ele ainda intensificou publicações de autopropaganda em suas redes sociais.
Na véspera do ano eleitoral, Doria e Garcia lançaram uma série de programas que podem alavancar suas candidaturas, como um pacote de investimentos de R$ 47,5 bilhões em obras e melhorias, além do programa social Bolsa do Povo.
A Folha mostrou ainda que Doria multiplicou a liberação de verba para deputados aliados. Adversários condenam o que consideram uso da máquina do governo para fins eleitorais.
Um sinal de entrave para que o tucano viabilize seu sucessor no governo é a taxa minoritária de aprovação de seu governo medida pelo Datafolha: 24% consideram a gestão ótima ou boa; 38% a veem como regular e 38%, ruim ou péssima.
Apesar do cenário pedregoso para fazer seu sucessor, Doria colheu ao menos um resultado positivo na pesquisa. Seu nome foi o que mais pontuou na pesquisa espontânea, aquela em que o instituto apenas pergunta em quem o entrevistado pretende votar, sem apresentar opções.
O tucano, que não é postulante à reeleição, tem 6% e aparece à frente de Boulos, Alckmin (ambos com 2%), França e Haddad (ambos com 1%). Mas a imensa maioria dos eleitores (69%), quando indagada, não soube informar o nome de algum pré-candidato ao Bandeirantes.
No caso de Bolsonaro, os gestos para indicar o ministro da Infraestrutura como seu predileto para a eleição paulista esbarram em obstáculos como a decrescente popularidade do presidente e as incertezas sobre o partido que os abrigará para o pleito de 2022.
Além disso, Tarcísio não tem raízes no estado e já indicou ter maior interesse por uma cadeira no Senado. A base bolsonarista carece de um nome de consenso para a disputa local, a exemplo do que ocorreu no pleito para prefeito em 2020, quando Celso Russomanno (Republicanos) só foi abraçado na reta final.