O destinatário principal da pressão é o senador Davi Alcolumbre (DEM-AP), presidente da Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Casa e responsável por marcar a data da sabatina. No entanto, como o parlamentar — que prefere o nome do procurador-geral da República, Augusto Aras, para o posto — já ignorou ligações e mensagens de Mendonça, além de não ter aceitado receber lideranças evangélicas, a estratégia agora inclui o presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (DEM-MG).
Uma caravana formada pelos pastores César Augusto (Igreja Fonte da Vida), Estevam Hernandes (Igreja Apostólica Renascer em Cristo) e Abner Ferreira (da Assembleia de Deus Madureira), entre outros, estará no Congresso em busca de uma reunião com Pacheco. O objetivo é cobrar solução para o impasse: como mostrou o GLOBO, na comparação com os atuais integrantes da Corte, Mendonça já é o recordista no tempo de espera para ser sabatinado.
Aliados de Mendonça avaliam que o possível distensionamento da relação entre Bolsonaro e os outros Poderes ajude a alavancar a aprovação de seu nome porque a falta de “clima” decorrente do radicalismo do Planalto vinha sendo a alegação pública de Alcolumbre para não pautar a sabatina. Mas o senador tem ao menos outra razão para não facilitar a indicação de Bolsonaro. Ex-presidente do Congresso, o parlamentar do Amapá contava com o apoio do governo para ser reconduzido ao cargo e eleger o seu irmão prefeito em Macapá. Os dois planos foram frustrados. Além disso, o clima azedou de vez quando Alcolumbre se sentiu desprestigiado após perder o controle da destinação de emendas parlamentares, com as quais angariava apoio de seus colegas. Incomodado e se sentindo desprestigiado pelo Planalto, ele passou a se recusar a pautar a sabatina de Mendonça em represália ao presidente e, nos bastidores, virou defensor do nome de Augusto Aras.
Rotulado por alguns parlamentares como lavajatista, Mendonça tem opinado que a operação de combate à corrupção e o ex-juiz Sergio Moro cometeram excessos. Para vencer a resistência ao seu nome, o candidato ao Supremo explicou para o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL), que não teve qualquer ligação com uma ação movida pela AGU junto com a Lava-Jato contra ele e o seu pai, Benedito Lira, prefeito do balneário alagoano de Barra de São Miguel. A explicação para o imbróglio foi simples: as medidas foram tomadas enquanto Mendonça estava, na verdade, na Controladoria-Geral da União (CGU).
Para se apresentar aos senadores, Mendonça fez um movimento atípico e chegou a viajar a diferentes estados para encontrá-los. Ao longo dessas visitas, ele recebeu oferta de fretamento de jatinhos particulares, mas recusou. Para não haver conflitos com a sua atuação na AGU, decidiu tirar férias — e foi substituído no comando do órgão. Encerrado o período de recesso, voltou a bater ponto como qualquer outro servidor e passou a ter menos encontros com Bolsonaro. A última conversa privada com o presidente teria acontecido antes da sua indicação ao Supremo. Após os atos de 7 de setembro, os dois se encontraram rapidamente no Planalto junto com outras pessoas.
Em suas conversas reservadas com senadores, segundo o GLOBO apurou com parlamentares, Mendonça tem esclarecido diversas dúvidas. Uma delas é sobre os pedidos de investigação contra adversários de Bolsonaro baseados na Lei de Segurança Nacional. O ex-ministro costuma dizer que apenas cumpriu a sua função, sob pena de prevaricação. A outra é sobre as orações que o presidente disse que o seu indicado realizará antes das sessões do Supremo. Pastor evangélico, Mendonça afirma cultivar o hábito de fazer intercessões particulares, em silêncio, antes de trabalhar.