Por que realities de pegação e relacionamento bombam no Brasil
Casamento às Cegas, de Férias com o Ex, Ilha da Tentação, entre outras produções ganharam versões e temáticas com o passar do anos
Desde os primórdios da televisão, as histórias de amor se tornaram centrais na programação, atraindo a atenção do público tanto no Brasil quanto no mundo. As emissoras exploraram essas narrativas de diversas maneiras, sobretudo em reality shows. Com a evolução dos meios audiovisuais e o crescimento das plataformas de streaming, novas temáticas além da busca por um par romântico começaram a emergir, conquistando popularidade e destaque nos rankings das séries mais assistidas.
Quem não se lembra, por exemplo, da volta do quadro Vai dar Namoro, do Hora do Faro, apresentado por Rodrigo Faro? O programa gerou uma avalanche de memes e menções nas redes sociais, impactando até a vida “real” com o icônico “Uuuuui” e o famoso “Hoje não, Faro” – o primeiro, um bordão sonoro do programa, e o segundo, uma frase frequentemente usada pelas pretendentes.
Essas dinâmicas não são novidade. Elas já brilharam no programa do Faustão, foram recicladas por João Guilherme Silva, filho do apresentador, e também se destacaram no Beija Sapo, apresentado por Daniella Cicarelli na extinta MTV Brasil, entre outros exemplos.
Há, até mesmo um filme em cartaz que explora um quadro sobre relacionamentos em um programa de TV dos Estados Unidos, nos anos 1970. A trama segue uma jovem aspirante a atriz que acaba se encontrando com um serial killer no The Dating Game. Intitulada Garota da Vez, a produção traz a história de Rodney Alcala.
Em alta no streaming
Aproveitando a popularidade desse tipo de conteúdo, plataformas como Netflix, Paramount+ e Prime Video estão investindo cada vez mais em atrações voltadas para relacionamentos. Só o De Férias com o Ex, por exemplo, já conta com mais de 10 temporadas (e contando), incluindo prograamas derivados como No Estúdio com o Ex e DR com o Ex.
Outro exemplo é Casamento às Cegas, programa que frequentemente aparece no topo das listas da Netflix. Com diversas temporadas e versões pelo mundo, incluindo Brasil, Estados Unidos, Reino Unido, Japão e Suécia, a atração é produzida pela Endemol Shine Brasil, que também é responsável por outros sucessos como Game dos Clones e O Crush Perfeito.
Por que tão populares?
Allan Lico, vice-presidente de conteúdo e criação na Endemol Shine Brasil, explicou ao Metrópoles que é da natureza humana se interessar por relacionamentos, sejam os amorosos, familiares entre amigos ou pessoas que se conheceram recentemente e que há uma tendência pela combinação de gêneros.
“Talvez tenhamos hoje um maior número de títulos de realities shows com essa temática, mas o interesse pelo assunto sempre foi grande – podemos olhar para as novelas, por exemplo, onde relacionamentos amorosos sempre foram temas centrais. Hoje temos uma busca muito grande por formatos que tragam outras premissas e dinâmicas para o tema, dado o grande número de títulos com essa temática”, declarou.
Para Michelle Alberty, vice-presidente sênior de conteúdo e estratégia de marca – Paramount International MTV Entertainment Studios & Media Networks Latam, esse tipo de produção está evoluindo no estilo documental e na criação de novos formatos para manter o público engajado semana após semana.
“É essencial construir esse público e criar novos momentos dentro da série, como desafios ou um prêmio em dinheiro. E, claro, é preciso ter momentos de suspense e conflitos não resolvidos”, disse, acrescentando que há diversas camadas nas produções que “criam momentos cativantes e altamente identificáveis”, indo além da tela.
Conexão acima da ficção
Tanto para Allan Lico quanto Michelle Alberty, o assunto relacionamentos faz com que os telespectadores se conectem com os personagens, que são reais e não atores contratados para tal. A torcida, curiosidade e identificação, muito por conta desse assunto estar presente em rodas de conversa, na literatura e na televisão, “não terminam com o último episódio”.
“O público continua acompanhando e construindo um relacionamento com os talentos após o programa. Isso se transforma em uma espécie de telenovela. Eu diria uma telenovela-reality”, analisou Michelly. Já para Lico, o reencontro, existente no final das temporadas de Casamento às Cegas e Ilha da Tentação, faz com que os fãs das produções se envolvam de uma maneira mais profunda.
“Existe muita demanda por parte das plataformas e canais por dating shows e, além disso, com a quantidade grande de formatos de realities de relacionamento, tanto de terceiros quanto do nosso catálogo global, procuramos sempre nos diferenciar e inovar na produção, adaptação e desenvolvimento”, afirmou.
Lico destaca que, apesar das diferenças culturais, a adaptação para o público local é simples, dada a universalidade do tema, e cita variações culturais em versões nacionais de programas como Casamento às Cegas. Ele também mencionou
“A fórmula simples e a premissa objetiva desses tipos de shows aumentam as chances de sucesso e de criar um título forte”, acrescentou.
Por fim, Lico destacou que esses realities oferecem “um retorno significativo tanto em termos de audiência quanto de branding”, justificando o investimento em formatos duradouros e replicáveis.
De Férias com o Ex
Michelly declara que o De Férias com o Ex ganhou muita popularidade e engajamento por conta da capacidade de explorar emoções universais e dinâmicas interpessoais, que podem espelhar suas próprias experiências.
“A premissa única de exs reaparecendo nas vidas dos participantes traz não apenas drama, mas também um senso de imprevisibilidade que mantém os espectadores intrigados”, declarou.
Por fim, Michelle abriu o jogo sobre o futuro do programa. “Nós planejamos continuar produzindo mais temporadas da franquia de maior sucesso da MTV, De Férias com o Ex. É um fenômeno cultural”, encerrou.
Fonte: Metrópoles