O rei dos chifres da teledramaturgia brasileira
Jota Menon*
Sempre gostei de novela.
Já relatei isso em uma crônica publicada aqui no Facebook. Nela, reconhecia que, por causa do home-office, instituído oficialmente no período da pandemia, e depois acertada a continuidade, devido meu tratamento médico, afeiçoei ainda mais ao já quase vício de ver novelas.
E olha que hoje, na Rede Globo, as opções são muitas.
Começa de madrugada com a reprise do capítulo do dia de “Fuzuê” e as duas da tarde, logo depois do Jornal Hoje, traz a primeira de uma leva de novelas com a reprise de “Mulheres de Areia”. E segue, depois de Sessão da Tarde, com o quadro “Vale a pena ver de novo” reprisando “Mulheres Apaixonadas”.
Como uma boa TV não vive apenas de reprises, as 18h25 a Globo apresenta uma versão atual de “Elas por Elas”, com o imperdível Mário Fofoca, vivido por Lázaro Ramos, contracenando com a também espetacular Lara, interpretada por Débora Secco.
Depois vem a espalhafatosa “Fuzuê” e logo após o Jornal Nacional, “Terra e Paixão”. Fecha a “novelaiada global” a inédita (na TV aberta) “Todas as Flores”.
É muita novela pra um dia só.
Mas deve dar ibope, pois, do contrário, a Vênus Platinada não teria mantido a reprise do capítulo diário de “Fuzuê” na madrugada. Dizem que o horário foi criado para o público que entra no trabalho no começo da noite e passa a noite acordado. Como saem de casa ainda no período da tarde, perderiam o capítulo diário da “sua novela das sete”, não fosse a tacada de gênio dos executivos globais.
Acho que essa adentrada pelo mundo das novelas me credencia o bastante a entrar no tema que me fez retornar à escrita de uma crônica para ser publicada no Facebook: os chifres colecionados pelo personagem Antônio La Selva, interpretado em “Terra e Paixão”, pelo ator Tony Ramos que é amado pelos telespectadores até mesmo quando faz papel de vilão.
Aliás, o vilão dado a Tony Ramos pelo criador de “Terra e Paixão” não convence a quem assiste a novela diariamente.
Já nos primeiros capítulos, com a morte de Daniel La Selva (Johnny Massaro), Antônio descobre o primeiro chifre que lhe foi colocado em família. Daniel, a quem ele preparava para ser seu sucessor e era o predileto da megera Irene, interpretada por Glória Pires, era, na verdade, filho de Ademir La Selva, o personagem de Charles Friks.
Não contente em presentear o astro principal de sua trama com um chapéu de vaca logo no início da novela, o autor preparou outra maldade. Essa em dose dupla.
Sem muita explicação, mas aparentemente “pra ficar tudo em família”, Antônio La Selva esqueceu a guampa e passou a aguardar junto com Irene a chegada de “Danielzinho”, filho de Graça (Agatha Moreira), que ficou “viúva e grávida” antes de casar. Só que quem embuchou Graça foi o delegado Marino (Leandro Lima) e não Daniel La Selva.
Mas, antes de descobrir que levou outra chifrada na hora da quase nora Graça fazer seu neto, a cidade de Nova Primavera recebe a chegada inesperada de Agatha Santini La Silva, interpretada pela brilhante Eliane Giardini.
E aí Antônio La Selva descobre mais umas chifradas: antes de se casar com ele e se passar por morta, Agatha teve um filho com Gentil dos Santos (Flávio Bauraqui), o Jônatas (Paulo Lessa), curiosamente amigo e concorrente de Caio (Cauã Reymond) pelo amor de Aline Machado (Bárbara Reis) que fora namorada de Daniel no começo da história. Um verdadeiro rolo. Mas, tudo em família.
Pior ainda será a descoberta de que o engenheiro agrônomo Hélio (Rafa Vitti), por quem sua filha Petra La Selva (Débora Ozório) é apaixonada, o que teria a levado a manter um casamento de fachada com Luigi (Rainer Cadete), também é filho de Agatha.
Não fossem suficientes todos esses chifres que, juntos, certamente são suficientes para enfeitar a cabeça de um veado galheiro, o autor ainda brindou a testa de Antônio La Selva com o chifre do capítulo de hoje, aliás, que lhe vinha sendo posto semanalmente num dos motéis mequetrefes de Nova Primavera: o caso entre Irene e o geólogo Vinícius (Paulo Rocha).
Somente este caso, que Antônio La Selva, com “ajuda” de Agatha, pegou o flagrante, parece ter mexido de fato com os brios do “Rei dos Grãos de Nova Primavera”. Tanto que todos estamos esperando o capítulo de amanhã quando ele reúne seu capangas, chefiados pelo “Macho” Ramiro (Amaury Lourenço) e sai em perseguição ao destruidor da sua reputação.
É bem verdade que, lendo os resumos dos capítulos desta e da próxima semana, sabemos que não será desta vez que La Selva se vingará de um dos tanto pares de guampa já fincados na sua testa.
E, pelo andar da carruagem, com o recasamento de Antônio com Agatha, é bem provável que o autor de “Terra e Paixão” tenha tempo suficiente para fazer mais alguma malvadeza com o chefe da clã dos La Selva.
Definitivamente, Tony Ramos, ou melhor, Antônio La Selva merece o concorrido título de “Rei dos Chifres” de toda história da teledramaturgia brasileira.
É muito chifre pra uma cabeça só!
* Jornalista pela UFMS e editor do DSM entre outros portais.