Mauricio de Sousa perde vaga na Academia Brasileira de Letras para filólogo
Cavaliere era a escolha imediata à vaga antes de o pai da “Turma da Mônica” apresentar seu nome na disputa, em março, em substituição à professora Cleonice Berardinelli, morta em janeiro.
Seu favoritismo parecia ameaçado pelo cartunista, mas a realidade mostrou o contrário. Ele teve 35 votos contra apenas dois em favor de Mauricio.
Doutor em língua portuguesa pela Universidade Federal do Rio de Janeiro e professor aposentado da Universidade Federal Fluminense, Cavaliere é um dos maiores especialistas em letras e linguística do país.
Após o doutorado, pesquisou ao lado de Evanildo Bechara, imortal da ABL de 95 anos e referência absoluta nos estudos de gramática no país.
A vaga em disputa era de Berardinelli, que morreu em janeiro aos 106 anos como a integrante mais longeva da Academia, da qual fora a sétima mulher eleita. Especialista em literatura portuguesa, ela foi uma das pioneiras no estudo de Fernando Pessoa.
Por isso, Cavaliere era visto como um bom substituto para a cadeira número oito, já que a Academia tem tradição de substituir seus membros por outros com especialidade semelhante —no caso, ambos são pesquisadores da língua portuguesa.
Concorriam, além de Mauricio e Cavaliere, os escritores Elois Angelos D’Arachosia, James Akel e Joaquim Branco e o advogado José Alberto Couto Maciel. Nenhum jamais teve chance real de ser eleito.
Em declaração depois do resultado, o cartunista de 87 anos parabenizou o vencedor da disputa e celebrou a discussão sobre o “papel fundamental” dos quadrinhos na formação de leitores.
Desde que Mauricio confirmou sua candidatura, a corrida para a vaga esquentou.
Se o cartunista rapidamente conquistou um pequeno séquito de adeptos dentro da Academia, caso da atriz Fernanda Montenegro e do escritor Paulo Coelho, e na opinião pública, também foi alvo de ataques.
Akel, que postulava à mesma vaga e não obteve nenhum voto, foi o crítico mais vocal ao desenhista, criando polêmica ao dizer que gibi não era literatura de verdade e que Mauricio de Sousa não tinha o que acrescentar à ABL. Ele afirmava ser mais preparado para a vaga e ter um plano de ação que gostaria de implementar na Casa de Machado.
As falas de Akel geraram reações tanto nas redes sociais quanto em artigos como o do editor André Conti, que lembrou outras declarações recentes do escritor e jornalista, como a defesa da tortura de guerrilheiros opositores da ditadura e a crítica à TV Globo por, supostamente, “mostrar uma imagem ruim do regime militar”.
Pela segunda vez na história, os acadêmicos votaram em urnas eletrônicas, emprestadas pelo Tribunal Regional Eleitoral do Rio de Janeiro, para eleger o novo imortal. A primeira foi na semana passada, quando Heloisa Buarque de Hollanda foi escolhida para a vaga que era de Nélida Piñon.