Com parte destruída pela prefeitura de Lisboa, mural inaugurado por Margareth Menezes começa a ser refeito
‘Paginário’, obra de Leonardo Villa-Forte, no Largo do Correio-Mor LIBIA FLORENTINO/Divulgação
TALITA DUVANEL
O GLOBO – Depois de ter parte destruída pela prefeitura de Lisboa na última quarta-feira, o mural “Paginário”, inaugurado pelos governos português e brasileiro Brasil durante a passagem da comitiva do presidente Lula, começou a ser reconstruído neste sábado. A informação é do artista carioca Leonardo Villa-Forte, autor da obra, comissionada pela Missão do Brasil junto à Comunidade dos Países de Língua Portuguesa.
—A parte degradada vai ficar igual a original. Tivemos esse episódio lamentável, que pode ter “n” motivações, mas o que importa é que vai ficar bonito como estava e permanecer o tempo devido, até 20 de julho — disse Leonardo, que participou da inauguração no Largo do Correio-Mor, na última segunda-feira, junto à ministra da cultura Margareth Menezes e do ministro da cultura português Pedro Adão e Silva.
Segundo a agência de notícias Lusa e a SIC, o prefeito Carlos Moeda prometeu investigar o que motivou a destruição, realizada pelo departamento da Higiene Urbana. Ao GLOBO, Villa-Forte disse que a prefeitura garantiu pagar os custos de restauração.
— Mesmo com a reparação, é preciso fazer o registro pois um ato como esse passa a fazer parte da história do mural. Ele já expressava diálogos, choques e riquezas das numerosas variações linguísticas do português, agora foi acrescentada a ele, de maneira tão grossa quanto literal, uma parcela de violência e tentativa de apagamento que sempre esteve se disseminando ao longo da complexa história da língua — acrescenta Leonardo.
O mural tem 960 páginas, tiradas de obras dos 35 países que compõem a comunidade. A ideia é mostrar a pluralidade da língua e levar a literatura para a rua. Ajudaram o artista na seleção nomes ligados às letras das diversas nações lusófonas. Do Brasil, participaram Cida Pedrosa, Luciany Aparecida, Lucas Litrento, entre outros. Joice Zau, de Angola, e Eliseu Banori, de Guiné-Bissau foram alguns dos participantes da África.
Aniversário
O “Paginário” é um projeto de intervenção de espaços urbanos a partir da literatura que completa uma década em dezembro deste ano. O mural da CPLP foi o maior da carreira de Leonardo até agora.
—Temos por volta de 70 murais em todas as regiões do país. Comecei como uma montagem coletiva. Convidava amigos para me enviarem as páginas preferidas dos livros deles e pedia para que iluminassem as partes de que mais gostavam — conta o artista. — Gosto dessa ideia de leitura na rua e de trabalhar, visualmente e textualmente, o texto, com o leitor criando seu trajeto de leitura.