Mion é criticado por lulistas e bolsonaristas ao contestar Lula

Apresentador apontou erros em fala do presidente sobre saúde mental e foi questionado sobre eletrochoque proposto pelo governo anterior

homem branco sentado em cadeira diante de fundo amareloO Apresentador Marcos Mion – Fábio Rocha/Divulgação

CRISTINA PADIGLIONE
FOLHA DE S.PAULO 
SÃO PAULO – É evidente que um erro não justifica outro, mas Marcos Mion não teve como escapar do julgamento das redes sociais ao se manifestar contra falas equivocadas do presidente Lula sobre saúde mental. O presidente disse que pessoas com “deficiência mental” teriam “problemas de desequilíbrio de parafuso.”

Pai de um filho com autismoRomeo, e ativista na luta pela sociabilização de pessoas com deficiência intelectual, Mion está certo e Lula, errado. Tanto é que o presidente se desculpou pelo equívoco, se corrigiu e admitiu que sempre é tempo de aprender.

Mas a polarização política levou o caso para outra esfera, e o apresentador agora vem sendo cobrado por ter se calado diante de uma consulta pública feita pelo SUS durante o governo Bolsonaro sobre o uso de eletrochoque em pessoas com espectro autista.

Imagens de Mion ao lado de Jair e Michelle Bolsonaro foram resgatadas para tentar associá-lo ao ex-presidente, com quem o apresentador esteve em 2019, quando foi a Brasília para participar de uma reunião que pedia a inclusão de pessoas do espectro autista no Censo do IBGE. Tratava-se de um encontro interministerial, sem a presença do ex-presidente, que solicitou que todos fossem ao seu gabinete após a reunião, quando sancionou a lei e aproveitou para fazer foto com Mion.

No ano seguinte, Mion também viu, sem ir a Brasília, o resultado de outra batalha sua: a aprovação de uma lei que leva o nome de seu filho e cria uma carteira de identificação de pessoas com o Transtorno do Espectro Autista.

Mas na atual fúria da web, houve também quem lembrasse que Mion encarou um debate civilizado com o publicitário Roberto Justus, no início da pandemia, sobre os números alarmantes de mortes que nos aguardavam em função da Covid-19, o que o colocava na contramão do negacionismo bolsonarista sobre a doença.

Foi Mion quem primeiro deu voz a Átila Iamarino, biólogo que viria a ganhar força ao longo da pandemia, com informações e pesquisas sobre o contágio da doença.

E o atual vídeo contestando Lula também despertou a ira bolsonarista, que acusa Mion de ter virado as costas para Bolsonaro durante a campanha e ter se aliado à “inimiga” Globo.

No vídeo publicado em suas redes sociais, Mion se disse “chocado” com as palavras de Lula e o corrigiu: “O termo usado, já há muitos anos, é ‘deficiência intelectual’, e não ‘deficiência mental’, como o Lula usou. A gente tem que se policiar, tem que aprender e tem que se adequar. Lula se refere a essas pessoas dizendo que elas têm problemas de desequilíbrio de parafuso. Isso é só pejorativo e também incentiva outras pessoas a continuarem usando esse termo”, afirmou.

Militante ativo da causa de pessoas com deficiência intelectual, Mion tornou pública a condição de seu filho em 2014.

Confira o vídeo de Mion abaixo:

Foto de Cristina Padiglionezapping – cristina padiglione 

Cristina Padiglione é jornalista e escreve sobre televisão. Cobre a área desde 1991, quando a TV paga ainda engatinhava. Passou pelas Redações dos jornais Folha da Tarde (1992-1995), Jornal da Tarde (1995-1997), Folha (1997-1999) e O Estado de S. Paulo (2000-2016). Também assina o blog Telepadi (telepadi.folha.com.br).

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